Gastronomia

2022-03-25

DIETA MEDITERRÂNICA. Andamos a pôr carne a mais no cozido

Será que temos conseguido manter a tradição de fazer o verdadeiro à boa maneira alentejana? Escutemos João Cavaleiro Ferreira, da Entidade Regional de Turismo do Alentejo: «Até se peca, muitas vezes, pelo exagero da proteína. O cozido de grão devia ter muitos mais vegetais do que, efectivamente, tem. A quantidade de carne e de enchidos revela que, sob o ponto de vista material, se vive melhor, mas é um disparate sob o ponto de vista da dieta, sob o ponto de vista alimentar e também pelo desvirtuar da tradição».


João Cavaleiro Ferreira, Entidade Regional de Turismo
 
E quando as cartas dos restaurantes apresentam pratos de porco preto? Será a designação correcta? também não. «Nas cartas dos restaurantes é muito complicado não dizerem porco preto. Mas digam porco preto alentejano», sugere o dirigente, justificando que há porco preto de várias origens e «não devemos menosprezar a existência de porco alentejano», acrescenta  

Dois detalhes deixados no Alandroal por João Cavaleiro Ferreira em declarações ao Sul Ibérico,  no seminário sobre a Salvaguarda da Dieta Mediterrânica, uma parceria Direcção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP), Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL), que procura estender a passadeira à criação da «rota mediterrânica no Alentejo». 

Ponto relevante em cima da mesa: a dieta mediterrânica é a mais saudável, mas é hora de a adaptar aos novos tempos, como sublinha Sara Cruz, da DRAP, recordando que quando se começou a falar de dieta mediterrânica havia um contexto diferente. «As pessoas tinham que trabalhar a terra, gastavam a energia aí e podiam depois fazer um tipo de alimentação completamente distinto». 

Hoje é diferente. «Temos um estilo de vida em que andamos a correr de um lado para o outro. Temos de nos adaptar ao que o território nos dá e ao que é o nosso estilo de vida no dia-a-dia». Ou seja: «Se estivermos mais tempo sentados à secretária temos que ter mais cuidado com aquilo que são os produtos que a natureza e a agricultura nos dão».

Sara Cruz, Direcção Regional de Agricultura e Pescas

O Conselho Regional que foi criado para a dieta mediterrânica assenta em quatro pilares, cruzando as vertentes agrícola e cultural, passando pelo turismo e chegando à saúde. «Temos que tentar fazer ver às pessoas a importância da produção local, sazonal e circuitos curtos», resume, chamando a atenção para a relevância aos dias de hoje da economia circular.
 
TEXTO Roberto Dores

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