Gastronomia

2024-05-07

Erva infestante dos quintais é uma delícia no prato

 
Crescem em, praticamente, qualquer lugar nesta altura do ano, indiferentes ao sol, à sombra, à chuva e até ao tipo de terra. Tanto faz ser boa ou má, arenosa ou argilosa. Até ganham espaço entre as juntas das calçadas dos próprios quintais. Por tudo isto as beldroegas inscrevem-se entre aquelas plantas infestantes, sem qualquer tipo de utilidade para a maioria das pessoas. Mas não é bem assim. Falamos de uma planta nutricionalmente riquíssima, que faz uma sopa sublime. Fomos perceber como se trabalha esta iguaria e deixamos uma dica: Não é difícil
 
TEXTO | Roberto Dores
  
    Estamos na esplanada do restaurante Raya, em plena praia das Azenhas d´El Rei, onde se faz a apresentação da próxima edição do Soil to Soul, agendada para os dias 25 e 26 de Maio, no Castelo do Alandroal. Com o mote «Somos o que Comemos», eleva-se a prioridade em torno dos produtos sazonais, em nome da sustentabilidade, onde as ditas beldroegas se encaixam exemplarmente.

   Que o diga Maria José Valentim, do restaurante Recanto do Fado, que levou à mesa a sopa de beldroegas. «É tempo delas. Estão óptimas na Primavera. E as que apanhamos nos quintais ou nos passeios das ruas são as melhores», relata ao Sul Ibérico, enquanto vai servindo alguns pratos à boa maneira alentejana.
 

   Cama de pão fatiado na tigela e sopa servida por cima, acompanhada de batata cozida às rodelas, ovo escalfado e queijo de ovelha. A maioria das pessoas usa queijo de cabra, mas Maria José Valentim prefere o sabor conferido pelo derivado da ovelha.

   Agora revelamos o passo essencial para garantir umas beldroegas macias e saborosas no prato. «Depois de se colherem, retira-se a raiz e algumas sementes que possam ter. Temos que escolher as mais tenras. De seguida, é essencial escaldá-las em água a ferver e atirar a água fora, para perderem o sabor amargo. Estão prontas a fazer esta belíssima sopa», diz a cozinheira, revelando que um fio de azeite e uma cabeça de alho ajudam a «compor o ramalhete».

   E os clientes o que dizem sobre este prato? «A maioria dos alentejanos conhece a erva, mas também temos quem não saiba do que se trata e ache estranho. Mas depois de explicarmos e provarem ficam a gostar», acrescenta.
 
Procurar no Alandroal o que as grande cidades já não têm

 
A sopa de beldroegas entra na lista dos produtos sazonais que «afinam» pelo diapasão do conceito Soil to Soul, ao lado das favas ou das ervilhas. Voz ao presidente da Câmara do Alandroal: «Nós, que vivemos cá, sabemos a importância e o valor que tem aquilo que consumimos diariamente. A origem natural dá-nos outras possibilidades e permite ser trabalhado de outras formas», enfatizou João Maria Grilo, puxando por estes argumentos como motivos de atracção para o concelho.
«Quem nos procura ao longo do ano vem à procura de qualidade, de natureza, daquilo que, às vezes, já não se encontra nas grandes cidades. Temos quase o dever de promover isso», sublinhou o autarca, destacando ainda a mais-valia projectada para a edição deste ano, perante a participação de 13 ou 14 restaurantes do concelho no Soil to Soul. Durante o fim-de-semana do festival vão ter nas ementas, pelo menos, um prato confeccionado à base de produtos com origens nas hortas locais. Talvez ainda cheguemos a tempo das favas. É que este ano choveu mais.
 

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