Gastronomia

2022-06-13

«Pai, ainda falta subir muito, mas não quero desistir»

Tiago, oito anos. Ainda tem toda a rua Direita para calcorrear até ao Castelo, onde está um posto de abastecimento de água, que coincide com a estação de cor azul. Estão perto de 40 graus. Mas não desarma. O pequeno quer - porque quer e até andou «a treinar para isso», diz - completar os oito quilómetros que formam o percurso do Estremoz Fun Running, com 800 inscritos. O pai cede ao desafio, mesmo contra as dúvidas da mãe.
   


   «Não pensámos que ele quisesse ir além da piscina», sublinhava a mãe, enquanto o pai sorria resignado à persistência do filho. Houve - que bem vimos - participantes que se refrescaram na piscina municipal, mas não ousaram subir até o Castelo. Optaram por saltar essa etapa. Não havia penalização.
 


   O Tiago não. «Meteu na cabeça que queria fazer tudo e agora é isto», lamenta a mãe, enquanto borrifa as costas ao filho com o resto da água já quente que resistia no fundo da garrafa.  «Pai, ainda falta subir muito, mas não quero desistir, Está bem? O avô disse que estava lá em cima à minha espera e vinha comigo», insiste. E lá estava o avô, munido de água fresquinha, sumos, uvas e até sandes. O verdadeiro avô a ser avô. Ponto.
 

 
   Antes disso, já os atletas - podemos chamar atletas, certo? - tinham vencido os primeiros quilómetros, com a passagem pela estação amarela, no primeiro banho de pó. em Casais de Santa Maria. Umas centenas de  metros à frente surgiu uma agradável surpresa. Alguém a quem vários participantes chamavam «professora», puxou a mangueira da própria casa e lá ia molhando quem passava.


   «É a minha forma de participar nisto, é uma alegria ver tanta gente envolvida e bem-disposta», dizia ao Sul Ibérico, enquanto espreitava para o fundo da rua e percebia que, afinal, ainda lá vinham umas centenas de pernas a caminho.
 
 


   Seguiu-se a piscina como a estação verde e os mergulhos inevitáveis com a roupa que se trazia em cima do corpo. Repetimos: estavam 40 graus. Mais coisa menos coisa.
 

 


   Mas já espreitava o troço mais arrojado do Fun Running, com a subida até ao Castelo. Se fosse uma prova de ciclismo, diríamos que o pelotão ficou definitivamente partido. Mas como aqui a corrida era divertida, esse detalhe não conta para a reportagem. Nós subimos. E em passo acelerado. Vá, nem sempre, porque íamos ouvindo os verdadeiros protagonistas.
   É agora tempo de descida até ao Pelourinho para cruzar a estação roxa. O chão ficou pintado, como se de pétalas de jacarandá se tratasse. Pelo menos, foi o que nos fez lembrar. Sorrisos mais abertos agora. Já se sabe que para baixo todos os santos ajudam, mas até a sombra passou a acompanhar os atletas.
 
 
 

   
   Nunca mais encontrámos o Tiago, mas a mãe não passou do Rossio. «Tenho ali o carro. Fiz um entorse há dias e não quero arriscar», justificou. Não foi desculpa.
   Os tons laranjas pintavam a passagem pela mata, enquanto os rosas ilustravam o Parque da Porta de Santa Catarina. Só mais um esforço, que a meta é já ali. Onde? No mesmo Parque de Feiras de onde todos partiram limpinhos e chegaram de todas cores. O que aconteceu depois? A que explosão de cores se assistiu? E o que se dançou por lá. O melhor é ver vídeo aqui em baixo, porque não é fácil descrever por palavras os ritmos que por ali andaram. 

TEXTO Roberto Dores
 

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