Património

2022-10-26

Santa Vitória do Ameixial é uma jóia do período romano e um laboratório da arqueologia  

 
ESTREMOZ. A descoberta do mosaico que aborda a cena de  «Ulisses e as Sereias» (ver foto) é apenas um dos detalhes que eleva a villa romana de Santa Vitória do Ameixial como um sítio emblemático à escala nacional, no que diz respeito ao período romano. A Câmara de Estremoz quer estudar o monumento, com mais escavações nos próximos anos, habilitando a criação de um centro interpretativo que permita tornar este património singular visitável 

TEXTO | Roberto Dores
 

O mosaico que aborda a cena de  «Ulisses e as Sereias», que está entregue ao Museu Nacional de Arqueologia


   Os estudos já realizados admitem que a villa terá sido edificada entre o final do século I a.C e o início do séc. IV d.C, durante a romanização da Península Ibérica. É Monumento Nacional desde 1974, mas, como sublinha a arqueóloga Rita Laranjo, as ruínas desta villa «estiveram ao abandono pelo Poder Central, mais de 20 anos». 
 
   Ou seja, as últimas intervenções ocorreram em 1997, estando o espólio entregue ao Museu Nacional de Arqueologia, pelo que ganhou especial relevo a acção de formação que por ali teve lugar recentemente, integrada no âmbito do Projecto de Investigação Plurianual de Arqueologia (PIPA). O CAMPUS – Escola de Arqueologia foi uma iniciativa que resultou da colaboração entre o Município de Estremoz e a Universidade de Évora. 
 
As ruínas estiveram ao abandonado mais de 20 anos. As últimas intervenções ocorreram em 1997

   «Podemos dizer que com este CAMPUS (as ruínas) voltaram a ter vida», destaca a mesma responsável, enquanto Hugo Guerreiro, chefe da divisão Sociocultural de Câmara de Estremoz, encara a villa de Santa Vitória do Ameixial como «uma jóia da época romana», destacando, precisamente, o mosaico de Ulisses como sendo um dos melhores do país em meios técnicos e de imagem. 
 
  «É um sítio arqueológico importante e insuficientemente escavado. Uma boa parte da aldeia de Santa Vitória assenta nesta villa romana. Infelizmente, o grosso do espólio que foi escavado está em Lisboa», diz, revelando que a autarquia ambiciona prosseguir com as escavações para potenciar a abertura de um centro interpretativo. 
 
   O objectivo visa poder ali encaixar parte do espólio referente a Santa Vitória do Ameixial que está no Museu Nacional de Arqueologia - caso este organismo o autorize - mas a prioridade do município passa por «tentar dar vida ao monumento que tem estado praticamente parado desde que está na órbita do poder central», lamenta Hugo Guerreiro, recordando que a Câmara tem um protocolo com a Universidade de Évora, que conta com o arqueólogo André Carneiro, para alcançar esse desiderato.
 
O  CAMPUS – Escola de Arqueologia contou com várias actividades ligadas ao registo e informação em arqueologia e à sua prática em campo, desde o desenho de campo, à aplicação da Geofísica em Arqueologia e às novas tecnologias aplicadas ao património
 
   A villa romana de Santa Vitória é encarada como uma espécie de laboratório da arqueologia aberto a escavações. «Precisamos de gente competente. Temos a participação dos arqueólogos da Câmara, Rita Laranjo e  José Inverno, liderados por  André Carneiro,  onde participam doutorandos e mestrandos, de maneira a retirarmos o máximo de conhecimento do monumento», justifica, admitindo que o futuro da villa poderá reservar «mais um espaço visitável de Estremoz e com fruição cultural.»
 
 
Referência regional em carteira

O Município de Estremoz é, desde Junho de 2021, a instituição com competências directamente ligadas às ruínas de Santa Vitória do Ameixial, cabendo-lhe a responsabilidade de «preservar e valorizar as memórias materiais, físicas e imateriais relacionadas com o sítio arqueológico e com os trabalhos aí realizados». Tem como principal foco potenciar o valor patrimonial da villa de Santa Vitória do Ameixial que tem todas as condições para “voltar” a ser um sítio de referência a nível regional e nacional. 
FOTOS | D.R.
 

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