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2024-04-06

Ser maior do que os homens. Florbela continua a ser diferente e dicionário explica porquê

 
Não se trata apenas de mais um trabalho sobre a poetisa portuguesa. É mais do que isso. O Dicionário de Florbela Espanca (Pedro & João Editores) reuniu mais de oitenta colaboradores que produziram os 180 verbetes desta obra. Já foi lançada no Brasil e tem apresentação agendada para o dia 19 de Abril (10.00 horas), na Universidade de Évora

   À «boleia» da apresentação que foi feita na Universidade Federal de Sergipe (UFS) é avançado que a obra consta em mais de oitocentas páginas do dicionário sobre a vida e fortuna crítica da escritora abordada através de verbetes, como o que foi produzido por Aline Cajé, técnica administrativa da UFS, que tratou dos bustos em homenagem a Florbela. 

Aline Cajé Bernardo é técnica administrativa da UFS. (foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)
 
   No seu verbete aborda «a polémica envolvida na implantação do busto de uma escritora, que casou três vezes, enquanto Portugal estava sob o regime ditatorial do Estado Novo», revela, sustentando que esta publicação é um marco para a história e crítica literárias. «Não só pela qualidade da sua escrita, bem como pelo facto de ser o dicionário de uma escritora mulher. Não vemos muitos dicionários sobre escritores em geral, quanto mais sobre uma escritora de uma época em que o papel das mulheres era outro», enfatiza.

Maria Lúcia Dal Farra foi professora de Literatura Portuguesa na UFS. Também escritora, venceu o Prêmio Jabuti de Poesia (2012)

   Maria Lúcia Dal Farra é a responsável pela coordenação científica do livro. A professora aposentada da Universidade Federal de Sergipe explicou que as páginas juntam «florbelianos» de sete países, considerando que esta obra «é um acontecimento. Algo difícil de se ver, ainda mais tratando-se de uma escritora. É uma obra actualíssima no que se refere às pesquisas sobre a Florbela, quanto ao conhecimento das coisas que já foram ditas sobre ela e aquilo que mais certeiramente tem significado. Nada é definitivo, claro, mas fizemos o que estava ao nosso alcance até este momento, cada um trabalhando na sua área, com muito empenho”, explica Dal Farra.


A mulher que há 100 anos usava calças, fumava e casou 3 vezes

   Nasceu em Vila Viçosa a 8 de Dezembro de 1894, numa casa que, entretanto, foi demolida. Rebelde, disruptiva obstinada, orgulhosa. Casou por três vezes. Usava calças e fumava. Foi baptizada como Flor Bela Lobo, mas preferiu autonomear-se Florbela d'Alma da Conceição Espanca. Vila Viçosa tem em carteira um projecto para promover a poetisa alentejana que escreveu «Amar perdidamente». E muito mais
 
   Façamos um exercício. Conseguiremos, aos dias de hoje, perceber as tremendas ousadias - assim, no plural - que marcaram a vida de Florbela diante de uma sociedade conservadora e até escura pelo cinzento carregado? Mulher de calças, fumadora, três maridos. Havia de se matricular na faculdade de Direito, na Universidade de Lisboa.
   
   Um dia antes de celebrar 36 anos decidiu partir. Estava em Matosinhos. Avisou a sua empregada (Teresa) que queria dormir sem que nada a perturbasse. Mas acabou por tomar «Veronal» - um soporífero extremamente vigoroso - com leite.
 
 
 

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