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2022-09-05

«Fechem bem a cancela. Olhem que o touro chega aí»

ALANDROAL EM FESTA. Bebem-se minis e comem-se bifanas enquanto se espera pelos toiros. A tarde de domingo é «casa cheia» no Largo de Santo António, cercado por gradeamentos e viaturas. Chegamos meia hora antes, mas os melhores lugares já eram. Ficamos onde é possível, com o pôr-do-sol a dar de frente. «Os touros já aí vêm», avisam-nos. A «plateia» fixa os olhos em direcção à manga. Sai o primeiro. Começa a largada. É hora dos mais afoitos mostrarem o que valem.

REPORTAGEM: Roberto Dores


   Voltemos uns minutos atrás. «Ainda se arranja uma bifana?», pergunta um jovem, dirigindo-se a quem está com a mão na massa no alto da carrinha de caixa aberta. «Agora que o touro está a chegar é que te deu a fome?», questiona uma voz feminina em tom irónico. «E dá-me também uma cerveja», insiste o cliente, enquanto mostra o «traje» com que tenciona enfrentar os animais.

   «Os ténis é que têm de ter boa aderência e os calções serem largos para não impedirem os movimentos», explica. O resto é agilidade e perícia. E, já agora, ter a percepção - com alguma dose de antecedência - para onde se deve fugir em segurança quando o touro investe.  

  Os animais acabam de ser embolados ainda na carrinha que os transportou até à entrada do largo. Má notícia para os convivas. A imperial resume-se a espuma, porque o barril acabou. Alternativa? Cerveja de garrafa. Mas esta não está convenientemente fresca. Houve muita boca para alimentar durante a tarde, enquanto se esperava pela largada. 

   Calma. Isto ainda não começou. Chega uma criança com o capote ao ombro e entrega-o a um adulto que aparenta saber da «arte». Também por aqui se vê uma manta típica alentejana e uma camisola vermelha nas mãos de dois jovens. Hão-de servir para tourear alguma coisa. Ou tentar.

   Mas ainda não está tudo em conformidade. A multidão que preenche a varanda de acesso escola está em segurança. Como se de uma bancada central se tratasse. Há quem esteja melhor, perante o privilégio de assistir à largada das janelas das suas casas. Uma espécie de camarotes.

   Na zona onde nos encontramos é que falta fechar a vedação. A assistência está num patamar com um metro de altura e apesar do gradeamento se afastar  escassos dois palmos da parede - onde até uma pessoa tem de encolher a zona abdominal para passar -  recebemos um importante alerta de alguém pertencente ao staff: «Fechem bem a cancela. Olhem que o touro chega aí. Não é fácil, mas às vezes há surpresas». Pois seja. Encostemos a cancela à parede.

   O touro já está em praça. Ou no largo, melhor dizendo. Há quem ande por ali, mas fuja a sete pés assim que o animal levanta a cabeça na sua direcção. Há quem ouse ir para a linha da frente tirar fotografias e fazer vídeo com telemóvel. Mas também há quem passe mesmo à frente do touro e lhe toque na cabeça merecendo aplausos do público. 

   No centro estão dois pares de pneus de tractor, que funcionam como um «burladero». Vamos chamar-lhe assim. É para quem sabe. Passam por aqui os momentos mais emocionantes do fim de tarde, quando se foge do touro em círculo. Um dos mais afoitos chega a dar três, quatro e cinco voltas, enquanto o animal usa a cabeça para levantar um dos pneus alguns metros. Ouve-se um «bruaá», mas o animal parou face à fuga do desafiante. 


   Já um jovem se tinha lesionado ao saltar o gradeamento, chamando a ambulância ao recinto. «Pôs mal o pé e partiu uns dedos», dizem-nos. Apesar de estarmos a 100 metros de distância do acidente e do rapaz ainda não ter sido visto pelos bombeiros, as nossas fontes já têm o diagnóstico. «Isto é tudo normal. Acontece. Às vezes o pé falha e lá vai disto. Amanhã já anda aí», explicam-nos. Será?  

   
   Um dos jovens que está no grupo sorri e bate com o indicador na cabeça. Revela-nos que é de fora e que está a assistir a uma largada pela segunda vez. A  primeira foi na manhã de sábado. «Isto não é para qualquer um. Eu tenho sido desafiado a ir lá para dentro e confesso que é apelativo. Mas quero perceber melhor estes movimentos todos. Já vi gente que não consegue subir o gradeamento logo à primeira e o touro está logo em cima. Bolas, o susto que deve ser».

   E agora, com todos os acessos cortados, como saímos daqui antes da largada terminar? «Está ali uma porteira», explica-nos alguém do improvisado ´Barafunda Bar´. «Vão pelo descampado, levantem uma cancela e estão na estrada de alcatrão». Cá chegámos. 

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