Notícias

2023-06-01

A aluna especial que começou a ler mais tarde mas hoje apresentou um livro 

 
A história que se segue fala de superação. De alguém diferente, a quem a vida trocou as voltas, mas que não se deixou ficar. Com a ajuda da escola tem feito caminho. O seu caminho. Daniela. Daniela Carolino. Tem 15 anos e é aluna do 9º B.  Fomos conhecê-la esta quinta-feira à Escola Básica Diogo Lopes de Sequeira, no Alandroal, à «boleia» da apresentação do seu primeiro livro. Começou a ler apenas no 5º ano e hoje adora literatura. Era pouco provável que Daniela chegasse até aqui, garantem os professores. E não é que chegou mesmo!
 
TEXTO l Roberto Dores

   Daniela tem Mónica Baltazar a seu lado. É terapeuta da fala e funciona como se fosse a «voz imediata» capaz de verbalizar o que a especial Daniela pensa, mas precisa de mais tempo para dizer.


   Sobre o livro «Saul nas margens do Guadiana» recomendamos a leitura, mas levantamos o véu sobre a história criada por Daniela, que explorou a fauna e flora do concelho onde reside. É natural das Hortinhas. 

   Escolheu um cágado para protagonista principal. O Saul passava os dias apoquentado por não ter um sítio certo onde viver. Ora na água, ora na terra. Julgava ser caso único. Mas não. Foi depois de falar com os amigos que chegou a uma conclusão. «Nós somos felizes onde nos sentimos bem», explica Daniela em jeito de moral da história.


   O texto partiu da sua criatividade.  «A Daniela ia tendo as ideias e eu ia conduzindo a história até chegarmos ao Saul», conta a professora, folheando o livro que junta o coelho, o javali, o lagostim e o barbo. Além da rã. 

   «Há mais histórias contadas pela Daniela, que tem uma imaginação muito fértil. Se nós a conseguirmos conduzir sai uma coisa brilhante», enfatiza Mónica Baltazar, destacando a participação dos colegas na ilustração do livro que ambiciona retratar a diferença, recorrendo à adaptação de obras específicas para o Sistema Pictográfico de Comunicação (SPC) e à sua narração, potenciando junto de alunos não leitores, a compreensão de diferentes obras literárias.
 
 
   O livro integra o projecto «Ler e Contar a Diferença», que tem como principais objectivos promover a igualdade de acesso a material de leitura a todos os alunos, e tendo contado com o apoio da Câmara do Alandroal
 

 
3 Perguntas para 3 Respostas

«Tentamos sempre trabalhar com os alunos para sermos uma escola inclusiva»

 
Tomé Laranjinho
Director da Escola  
 
Como é que o director da escola avalia a evolução da Daniela?
A Daniela é uma aluna especial que anda cá desde o pré-escolar e que evoluiu bastante. Está na antiga unidade de multideficiência, que agora são os centros de apoio à aprendizagem. Teve uma evolução significativa. Tardiamente começou a ler e a escrever, mas é interessante, porque ela tem um gosto grande pela leitura. Sendo uma aluna com X frágil acentuado, tem uma imaginação fértil e utiliza um vocabulário que muitos alunos sem esta síndrome não utilizam.

Este momento na escola também reforça a característica do estabelecimento de ensino de proximidade no concelho?
Somos um concelho grande em dimensão, mas pouco populoso e cada vez com menos alunos. Muitos de nós, professores, já cá estamos há uns bons anos e os pais dos nossos alunos também já foram nossos alunos. Isso faz com que a escola esteja muito virada para o concelho. Tentamos sempre trabalhar com os alunos para sermos uma escola inclusiva.
 
Hoje é um exemplo disso?
Sim, é uma escola para todos. Somos uma escola normal, onde existem problemas normais, mas tentamos ser inclusivos e hoje isso ficou demonstrado com a Daniela, que é uma menina especial, mas que vai às aulas e que todos os alunos da turma conhecem.
 

Artigos Relacionados

« Voltar