2023-06-15

«Comecei a fazer tapetes aos 12 anos, mas foi melhor do que trabalhar no campo» 

 
Olinda Freixa começou a trabalhar aos 12 anos e teve escolha: Entre as árduas jornadas agrícolas no campo, de sol a sol, e a possibilidade de iniciar uma carreira como aprendiz de bordadeira, nem pensou duas vezes. Deitou mãos à tapeçaria. Cerca de 50 anos depois é um dos rostos que mantém a arte do mais genuíno Tapete de Arraiolos

TEXTO l Roberto Dores

 
   A cadeira baixa onde está sentada é estratégica. Assegura que são mais confortáveis para as bordadeiras, enquanto aplica uma visível destreza na confecção de mais uma franja que há-de ser o remate do próximo tapete. 

   Recuemos 50 anos até ao dia em que entrou pela primeira vez na fábrica de tapetes. «Fui para a fábrica Cidades. Se não fosse isso ia parar à agricultura, o que era pior. Isto é um trabalho cansativo, mas tem a vantagem de nos distrair muito, porque sempre vamos conversando umas com as outras», admite, relembrando os tempos difíceis por altura do 25 de Abril.


   «Foi a pior fase», sublinha, justificando que uma larga parte da população de Arraiolos trabalhava entre a Cidades e a Califa, mas as exigências em torno dos aumentos salariais provocaram um drástico corte, lançando o sector numa crise. «Ficámos sem trabalho e formámos uma cooperativa», relembra. Por ali trabalharam cerca de uma centena de mulheres. Ao princípio foi difícil, mas ao fim de dois ou três anos o negócio prosperou. Olinda, por exemplo, passou ali 30 anos da sua vida.

   Não admira que teime em resistir, apesar das alergias, dores nas costas, dedos doídos. O ponto de Arraiolos não tem segredos para esta bordadeira, tal como os potenciais ditados pelas lãs ou os desenhos que percorrem os tapetes. Ainda assim, lamenta que os tempos dourados do tapete já comecem a ser uma miragem.

 
   «Não há falta de trabalho. Há falta de jovens bordadeiras que queiram dar continuidade a isto, porque se ganha mal. Dois metros quadrados de tapete por mês dão 250 euros», exemplifica. Ainda assim, ergue um sinal de esperança à «boleia» do caminho que a Câmara de Arraiolos tem feito para tentar a classificação de património mundial junto da Unesco. Recorde-se que a presidente da autarquia, Sílvia Pinto, coloca-se ao lado da valorização dos tapetes sem perder de vista as mãos que os produzem. A autarquia assume-se como a primeira linha na defesa de um património secular que resiste e quer continuar firme neste desígnio.


   «Era muito importante que nos acompanhassem na valorização do trabalho das bordadeiras», alerta Sílvia Pinto, dirigindo-se às entidades competentes, justificando que se nada for feito para garantir rendimentos aceitáveis a quem produz os tapetes, dentro de uns anos vai ser difícil encontrar quem os faça.

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