2022-04-28

FIAPE. Porque estão os produtores de ovelhas a investir na raça merino alemão?

 
É uma espécie de regresso ao passado. A recuperação da raça merino alemão nos rebanhos do Alentejo até começou como «carolice» - para utilizar a expressão do produtor que deu o passo em frente há uns anos - mas foi avançando com resultados visíveis até aos dias de hoje. Fomos encontrar a explicação para o fenómeno em plena FIAPE (Feira Internacional Agro-pecuária de Estremoz) com produtores que conquistaram vários prémios.

TEXTO Roberto Dores
 
Escutemos a explicação da produtora Inês Dragão, que representa a nova geração de criadores, com exploração no concelho de Arronches. «É uma melhoria da raça. Nós já temos o merino português, que está adaptado, com características muito próprias. Mas faltava-lhe carne e o merino alemão vai trazer essa parte importante da carcaça», justifica.

Um processo que abriu a porta à possibilidade de se poder engordar borregos em tempos mais reduzidos, acelerando o processo em cerca de 20 dias. «É muito importante do ponto de vista do negócio», assume a produtora, acrescentando que os animais mantêm as características «em termos de rusticidade, mas as carcaças melhoram».

O produtor Paulo Palmeiro, também de Arronches, exibe argumentos semelhantes, mas começa por recuar aos tempos em que os seus familiares apostavam nesta raça. «Fiz uma pesquisa de mercado e cheguei à conclusão que era a ideal. Tinha um factor de crescimento e havia registo na Coudelaria de Alter, de 1978, de importações», revela, detendo nesta altura 50 ovelhas para fazer reprodutores.

«A raça está muito adaptada. É mais uma questão de recuperação, talvez de saudosismo ou romantismo, mas com a vertente sempre adaptada ao mercado», esclarece o produtor.


Manuel Véstia, o produtor que retomou a aposta no merino alemão no Alentejo, afirma que hoje o efectivo já chega aos 800 animais.

Mas recuemos até ao momento do regresso do merino alemão aos campos do Alentejo. Manuel Véstia, produtor de Veiros, concelho de Estremoz conta que decidiu dar este passo, após uma pesquisa em Espanha com um amigo.

«Sabia que era uma raça com grande aptidão na nossa região para fazer um bom cruzamento com o merino que temos cá. O Tiago comprou 20 fêmeas e eu comprei 35. Começámos por carolice e o hoje temos 22 criadores na ACOMA (Associação de Criadores de Ovino Merino Alemão)» revela, recordando como na primeira vez que expuseram na FIAPE levaram dez animais e hoje apresentam cerca de 40. «É um orgulho» congratula-se Manuel Véstia, avançando que houve produtores que «apostaram seriamente neste projecto e hoje já temos um efectivo na ordem dos  800 animais, o que, num projecto de dez anos, é muito bom».

Pedro Simas é o presidente da ACOMA. Assume que o desafio «tem superado as expectativas», sem perder de vista o apoio dado pela Escola Agrícola de Alter do Chão ao desenvolvimento da raça. «Temos feito algumas testagens de animais puros de raça merino alemão e outros cruzados a 50% da raça», diz, insistindo que os resultados têm sido «muito bons», à boleia de ganhos médios mais elevados, que permitem rentabilizar as explorações.

O dirigente elogia o trabalho da empresa Pasto Alentejano (sedeada em Sousel), aos dias de hoje líder europeia na comercialização de ovinos, confirmando que o sector está em crescimento. «Ninguém pensava, há cinco anos, que poderíamos atingir os valores de mercado que temos hoje.» E há espaço para crescer.
 

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