Rosalina Maria da Silva estende o sorriso quando abre a porta da sua renovada casa. «Tinha o chão todo estragado. O salitre estava sempre a saltar das paredes por causa das infiltrações. Isto já não era nada. Disseram-me para me queixar à Câmara e queixei-me. Resolveram-me o problema. Olhe para isto», diz a moradora de um monte à entrada de Santiago Maior (Alandroal), onde uma das equipas da Associação Just a Change está a ultimar duas habitações entre um total de cinco em todo o concelho. São casas de quem muito precisa e passa a ter um tecto novo
TEXTO | Roberto Dores
Guilherme Caeiro, um dos voluntários da Just a Change que aderiu ao «Camp In» no Alandroal, explica o trabalho realizado nas duas moradias desde o dia 11 de Agosto. «Abrimos janelas, construímos casa de banho de raiz, fizemos a canalização, colocámos isolamento e chão flutuante. Também rebocámos paredes e agora vamos aplicar o pladur. Está quase, quase...», aponta o jovem, enquanto a beneficiária não poupa nos elogios à equipa.
Escutemos Rosalina Maria da Silva: «Estes miúdos têm sido tão meus amigos. Estão sempre prontos para ajudar», confidencia, adiantando que nunca mais vai esquecer como lhe asseguraram melhores condições de vida. «A casa estava toda dada cabo e já está amanhadinha. Fico tão contente com o resultado», refere.
Já na Aldeia da Venda avança outro restauro. Estamos agora em casa de Maria Inês Dias, com duas crianças a cargo. «Houve um dia que andei a apanhar baldes de água às cinco da manhã», relata a moradora, sublinhando a degradação acelerada em que «mergulharam» o telhado e as paredes dos alçados laterais. Um deles convive paredes-meias com uma ruína. O outro com um vazio deixado por uma casa derrubada com uma retroescavadora.
Maria Inês Dias conta como conseguiu integrar a lista do Just a Change: «Custou-me ir incomodar o presidente, mas valeu a pena».
Maria Inês mostra a recuperação da sala e dos quartos onde ainda há buracos por tapar nas próximas horas. «Isto já não custa nada. É tapar e pintar», diz uma das voluntárias, enquanto vai preparando a massa.
Em estado mais avançado apresenta-se a casa de Maria Augusta. Voltou há uns anos para a habitação da família, que era dos pais, na rua dos Cravos de Abril, em Cabeça de Carneiro, mas foi tapando fissuras e mantendo o imóvel até ao limite. «Estava tudo a cair, mas agora quero ficar a viver aqui para sempre. Arranjaram paredes, tecto, puseram-me o chão nos quartos. Fizeram um trabalho muito bom e a casa ficou linda», enfatiza.
Maria Augusta viu ser recuperada a casa para onde foi viver ainda em criança com os pais, em Cabeça de Carneiro.
Já no Alandroal, a casa de Paulo Picanço também vai avançando. O proprietário integra a equipa formada por sete voluntários de Lisboa, Palmela, Porto e Azambuja, que montam e desmontam andaimes à medida que é preciso ganhar altura.

É Ari Machado quem «dá a cara» por esta intervenção. Conta que rasparam paredes, rebocaram-nas, abriram uma janela de raiz e fizeram uma casa de banho. Instalaram ainda água quente com recurso a um termoacumulador e preparam-se para aplicar o isolamento térmico com lã de rocha. A cozinha passa a ser dotada de forno, placa e exaustor. «Praticamente, a casa fica toda remodelada», atesta Ari.
«Estamos quase a debelar as situações extremas»
O presidente da Câmara do Alandroal, que apoia os voluntários da Associação Just a Change que por estes dias estão no concelho, aplaude o trabalho realizado nas cinco habitações, naquele que é o quarto ano deste projecto. «Felizmente os serviços têm cada vez mais dificuldades em encontrar situações destas, o que significa que estes casos vão sendo raros», assinala João Maria Grilo.
Isto sem perder de vista que ainda poderão ocorrer situações entre proprietários que vão preferindo não assumir as dificuldades . «Às vezes, quem tem mais dificuldades é quem menos pede, mas acreditamos que estamos quase a debelar as situações extremas. Isto não significa que não continuemos a ter trabalho para fazer e coisas para recuperar», insiste o edil, congratulando-se com a eficácia dos voluntários.
«Gosto deste modelo de trabalho com os voluntários, porque permite fazer um plano e actuar rapidamente", refere, justificando que nesta altura é difícil arranjar empresas no concelho que queiram realizar este tipo de intervenções».