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2022-07-25

A pedra de Arronches onde ninguém passa na noite de São João 

 
Todos sabemos. O Alentejo é multimilionário em lendas que foram passando de geração em geração. Numa caminhada por Arronches "esbarrámos" com três mouras. Assim, de repente. Verdade ou mentira? Apetece dizer que cada um acredita no que quer

Emílio Moitas. Aponta para a «Pedra da Moura» no rio Caia   

   Calcorreamos a calçada tradicional do Passeio do Vassalo debruçado sobre o rio Caia, que por estes dias corre à míngua de água. Lá em baixo está a «Pedra da Moura». Emílio Moitas assume o papel de cicerone. Aponta o sítio (na foto). «É aquela ali, estão a ver?». Sim, é apenas uma pedra. Está descrita como «grande pedra», mas cá do alto não se percebe a dimensão.

   A conversa começa a ganhar interesse quando se encaminha para uns tempos em que ali vivia um rei mouro, pai de uma linda princesa (como não podia deixar de ser) que deveria casar-se com um nobre cavaleiro escolhido pelo pai. 

   Mas a jovem tinha outra paixão: um príncipe mouro que andava em guerra. Furioso, o rei não teve contemplações e encantou a própria filha nessa pedra.

   A lenda assegura que na noite de São João a princesa moura se senta na pedra a cantar «lindas canções dedicadas ao seu jovem guerreiro», mas adverte que quem ousar ali passar nesse período pode ficar também encantado. Verdade ou mentira? Emílio Moitas remata que, por via das dúvidas, «ninguém se atreve a passar por lá na noite de São João».

«Pedra da Mentira» na rota das lendas   
 
   Quer conhecer mais duas lendas por aqui? Siga-nos em plena edição especial do 10.º Periferias Festival Internacional de Cinema, com o passeio pedestre pelo percurso «Forte e Valorosa Vila de Arronches», que atravessa trilhos e revela o novo passadiço com vista privilegiada sobre a singular silhueta da vila. Pelo meio de quintais e hortas, onde o rio empresta frescura à paisagem.

Caminho pelo trilho à volta de Arronches

   Chegamos à «Pedra da Mentira», no local do Tinte. «Tem um formato curioso», assinala Emílio Moitas, preparando-se para revelar o que se sabe sobre o seu passado. Terá sido uma outra moura que disse uma mentira ao rei (o seu pai) sobre o namorado. Também furioso, este rei encantou a filha na pedra. 

   Segundo a lenda, quem disser uma mentira em cima da pedra irá escorregar por ela e cairá ao rio. Alerta: o leito corre hoje a umas dezenas de metros da pedra. 

   A caminhada começou lá atrás, na zona histórica, onde se revelava a «Lenda das Escadas» de Nossa Senhora da Luz. Também por aqui vivia uma princesa moura que se convertera ao cristianismo. Era casada com um príncipe que andava em combate. Um dia a vila foi atacada por mouros, levando as pessoas a refugiarem-se na Capela da Senhora da Luz, pedindo protecção. 

   Conta-se que terão visto as escadas encostadas às muralhas, por onde os mouros subiam, a afastarem-se sem que mão humana lhes tocasse.
Os invasores seriam atirados pela encosta. Há quem diga, prossegue a lenda, que os mouros viram sobre a muralha uma imagem vestida de branco que brilhava mais que a luz. Seria a princesa convertida, a quem Nossa Senhora emprestou o seu esplendor para que defendesse o seu príncipe e os arronchenses. 

   Foi por isso que o povo colocou duas escadas junto ao altar onde permaneceram vários anos, continuando até aos dias de hoje a grande devoção à Senhora da Luz.


 O presidente de autarquia, João Crespo (à direta da foto), aborda o foco de Arronches na atracção turística 
 
   Lendas, paisagem, património, gastronomia, tradições, cultura. Tudo conta na estratégia definida pela Câmara de Arronches à hora de pensar a promoção do concelho. Escutemos o presidente da autarquia, João Crespo, que também marcou presença na caminhada, congratulando-se pela forma como a construção do passadiço permitiu «devolver o rio e a ribeira às pessoas. É um espaço muito agradável», assinalou.


   O autarca relembra como a zona estava degradada, com construções «menos legais», que já foram demolidas, puxando pela importância da intervenção que está a ser feita no Convento de Nossa Senhora da Luz. «Vai beneficiar muito aquele espaço, dando uma imagem diferente daquela zona de Arronches que as pessoas, na prática, não conheciam».

   João Crespo assume que tudo converge na visão com foco na atracção turística. «Apostámos muito num turismo que não seja de massas, mas que as pessoas possam estar um ou dois dias e conhecer a região nesta óptica de ponto de passagem», refere o edil, para quem o sector deverá funcionar em rede entre os municípios da região».

TEXTO Roberto Dores
 

 

 

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