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2023-01-16

Abrunhosa, o Turismo e o Cante. Afinal, que polémica é esta?

 
O início desta história começa com uma fotografia que coloca lado a lado, Pedro Abrunhosa e o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo (ERT). O próprio Vítor Silva (presidente da ERT) foi o autor da publicação no seu perfil do Facebook com a seguinte legenda: «Reuni hoje com Pedro Abrunhosa e alguns elementos da sua equipa para discutirmos a hipótese de elaborarmos um projecto de promoção do nosso território nos continentes europeu e americano, alavancado no Cante Alentejano.»


TEXTO | Roberto Dores

   Cada leitor fez a sua interpretação sobre  o ´post´. Se, para uns, a publicação apenas manifestava uma hipótese de elaboração de um projecto, para outros, a ERT estaria a admitir beneficiar alguém do Norte, eventualmente, em detrimento de músicos alentejanos. 
 
   Aos poucos, os comentários foram surgindo, as partilhas alargaram a malha e a polémica ganhou caudal à boleia das redes sociais. Uma corrente aplaudiu, outra reprovou. A maioria recorreu apenas aos ´emogis´ para exibir a sua tendência. 

   Em jeito telegráfico, podemos resumir que entre os do contra se defendeu, por exemplo, que o «Alentejo tem músicos tão bons ou melhores e mais habilitados a promover o cante» por serem naturais da região, enquanto Abrunhosa é um artista do Norte, menos conhecedor da música tradicional alentejana.

   Entre os a favor lia-se que o mediatismo de Abrunhosa seria uma «inquestionável mais-valia» na divulgação do património mundial alentejano. 

   Houve ainda quem, com o desenrolar de publicações e comentários, utilizasse o termo «embaixador do Cante Alentejano» - uns em abono do cantor, outros em jeito em reprovação - tendo o epíteto chegado a conquistar terreno nas redes sociais.
 
A foto que acompanhou a publicação de Vítor Silva, ao lado de Pedro Abrunhosa, no perfil do Facebook do presidente da ERT
 
   
   A polémica estendeu-se para lá dos acordes musicais, havendo quem «beliscasse» mesmo a gestão da própria ERT à hora de escolher representantes para promoverem a região. 

   Mas além das centenas - talvez milhares - de opiniões públicas que se foram escutando ao longo dos últimos dias, faltava ouvir as versões de ambos os protagonistas. É agora. 

   Pedro Abrunhosa recorreu à sua página do Facebook para explicar que, perante o êxito alcançado pelo Grupo Etnográfico Cantadores de Pias, que o acompanharam em Londres, Paris, Bruxelas e Luxemburgo - numa operação por si custeada - decidiu pedir à ERT que o ajudasse a fazer o «levantamento de eventuais entidades, privadas ou públicas», que quisessem apoiar uma nova digressão.

   No horizonte Abrunhosa tem  Buenos Aires, Nova Iorque, Rio de Janeiro, São Paulo, Tóquio, Estocolmo, Oslo, Berlim, Amesterdão. Fala num total de vinte cidades, mas justifica que sozinho já não poderia custear tal operação. Além dos 27 cantadores de Pias, teria que levar um músico e cinco técnicos. Um total de 33 pessoas.

   O texto segue até aos parágrafos mais cortantes. «De repente, sabe-se lá indigitado por quem, eu já era ‘Embaixador do Cante Alentejano’ e, provavelmente, deveria estar a receber por debaixo da mesa milhões de euros que gastaria em passeios no meu opulento veleiro fundeado no cais de Beja. Eu, ímpio estrangeiro, como me podia permitir tocar no sacrossanto Cante?» 

   Prossigamos umas linhas mais abaixo: «Um gajo do Porto ri-se disto. E provavelmente o Alentejo e os meus queridos companheiros Alentejanos, rir-se-ão também», referiu, acrescentando que o "país tem perdido oportunidades soberanas de sair do provincianismo»

   E sobre a eventual digressão? «Não sei em que é que isto vai ficar. Se desista de levar o encantamento secular do Cante Alentejano ao público que, pelo mundo, tem acompanhado generosamente as minhas aventuras artísticas ao longo de três décadas. A ver vamos.»

   Já hoje, o próprio Vítor Silva garantia  nas páginas do Diário do Sul que a ERT «não escolheu ninguém  para representar o que quer que seja nos mercados referidos», sublinhando que essa escolha teria obrigatoriamente de ser feita através de um contrato.

   O mesmo dirigente acrescentava que a ERT  «não tem competências para representar o Alentejo e promover os seus produtos turísticos nos mercados externos, com excepção das zonas espanholas transfronteiriças», sublinhando que essa competência é da responsabilidade da Agência Regional de Promoção Turística. Vítor Silva assume que também esta estrutura «não fez nem tenciona fazer qualquer contrato seja com quem for».
 

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