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2023-03-20

«Ajudou a curar a minha sobrinha. Fomos pagar-lhe e disse que não era nada»

Ana Maria Rosinha nunca soube quanto tinha sido a conta apresentada por uma unidade de saúde de Badajoz, onde teve uma sobrinha bebé internada vários dias. A família já não suportava o valor diário reclamado pela Clideba, acabando Rui Nabeiro por encarregar-se da despesa e da transferência da menina para o hospital de Elvas. «Fiquei a dever-lhe um grande favor. Viverá para sempre nos nossos corações»

TEXTO l Roberto Dores
 
   Esta colaboradora da TecniDelta recordava o momento de «desespero familiar» esta manhã, após ter depositado uma vela aos pés da estátua que Campo Maior ergueu a  Rui Nabeiro à entrada da vila. «A menina estava muito doente e a urgência da Clideba era muito cara. Nós tentámos transferir a bebé para Elvas, mas não permitiram. A clínica exigia o pagamento de todas as despesas. Era muito dinheiro», relembrava Ana Maria Rosinha.

   Perante tremendo «aperto» decidiu recorrer a quem, segund0 diz, melhor a poderia ajudar. «O senhor Rui mandou-me ir ao escritório, onde lhe contei o que se passava», revela. O empresário entrou em contacto com Álvaro Pacheco - médico da empresa - que fez a ponte com o hospital de Elvas, acelerando a transferência da menina para a unidade de saúde portuguesa, onde continuou a ser seguida. 

   «Quando a bebé já estava boa, fomos mostrá-la ao senhor Rui, como forma de agradecimento. Ele até chorou de felicidade», relatou emocionada, confidenciando que quando a família quis fazer contas com o empresário, recebeu a resposta de que estava «tudo resolvido», pelo que Ana Maria Rosinha nem chegou a saber o montante que foi pago à unidade espanhola. «Fiquei em dívida. Ele ajudou a curar a minha sobrinha, pagou tudo e quando fomos pagar-lhe disse que não era nada».

 
Manuel Rui Azinhais Nabeiro nasceu em Campo Maior, em 28 de março de 1931. O empresário, presidente e fundador do Grupo Nabeiro, entrou na vida política sendo eleito presidente da câmara de Campo Maior em 1972, cargo que voltaria a ocupar depois do 25 de Abril, entre 1977 e 1986. Em 1995, o Presidente da República, Mário Soares atribuiu-lhe o grau de Comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial - Classe Industrial, pelo reconhecimento de mérito empresarial e contributo ao desenvolvimento da terra e da região. Além da condecoração de comendador, em 2006 foi novamente distinguido como Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
 
   Um testemunho dos muitos que ao longo do dia se têm ouvido por Campo Maior, que hoje saiu à rua para aplaudir o carro fúnebre que transportou o corpo de Rui Nabeiro pelas ruas da vila até à Igreja Matriz. Pela hora de almoço continuava a ser grande a fila de gente que se estendia pela Rua Major Talaya no acesso à igreja, enquanto na fachada da autarquia a bandeira se mostrava a meia haste anunciando cinco dias de luto municipal.
 
«Morreu o pai da terra» 

 
   Na fila está Sérgio Ceballos, um dos muitos espanhóis que se foram juntando aos milhares de portugueses de todo o país que esta manhã encheram o centro de Campo maior. Veio de Cáceres. Nunca teve negócios com a Delta, mas exibe a marca da empresa fundada por Rui Nabeiro no pin que transporta na lapela. 

   «Tinha lá em casa e achei que era apropriado trazer. Já vi centenas de pessoas com o mesmo pin. É uma grande homenagem, estou impressionado com tanta gente», comentava, falando de Rui Nabeiro como «um bom amigo», que conheceu através do seu pai ainda na década de 80. «Sei que ajudou muitas pessoas também em Espanha. Nabeiro não era só de Campo Maior, era do Mundo».

   Cátia Gomes, que trabalha na Nova Delta há 18 anos concorda. «Tenho muito para lhe agradecer a nível profissional, mas também pessoalmente», sublinhava, depois de acender outra vela junto à estátua com a imagem de São José, porque, justificou, «ele morreu no dia do pai».

   Célia Saragoça não podia estar mais de acordo. Foi a primeira a depositar uma coroa de flores na estátua do empresário, logo no domingo, acompanhada das amigas Ângela Sardinha e Vera Sofia. Não hesitou em afirmar que «morreu o pai da terra» e que Campo Maior vai demorar a recuperar desta perda. 

   Isabel Martins, a proprietária do restaurante Azeitona, também fala com emoção da tremenda perda para Campo Maior, mas faz votos de que os «vindouros» prossigam o trabalho de Rui Nabeiro. «Desejo que não deslocalizem mais empresas do grupo por causa dos postos de trabalho e que consigam manter o legado do senhor Rui de ajuda ao próximo, que pôs Campo Maior no mapa», disse, aguardando que para 2024 a vila se junte para promover as Festas do Povo, que em 2021 foram classificadas pela Unesco como património mundial. «Era uma linda homenagem a quem tanto deu à terra para defender as nossas festas», sugere.
 
 

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