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2022-06-01

Alerta máximo para salvar peixe do Guadiana

   As últimas horas trouxeram notícias optimistas para o saramugo, um pequeno peixe -que, regra geral, mede entre sete e dez centímetros - que «só se dá» nas águas do rio Guadiana, mas que nos últimos anos começou por desaparecer abruptamente, atingindo o estatuto de espécie de perigo de extinção. Mas, afinal, de que peixe se trata? Fomos tentar saber.

   O saramugo passou a ser classificado como «criticamente em perigo de extinção». Tudo corria de feição a esta espécie endémica do Guadiana quando a mão do homem  pôs fim ao seu sossego. 


   A construção de barragens e açudes passaram a vedar o acesso às zonas de desova, criando descontinuidades nos cursos de água que foram isolando as populações. A poluição, motivada pelas descargas de resíduos agravou o cenário, mas também as extracções de areias se revelaram inimigas desta espécie enigmática.

   Além de alterarem as características do habitat, destruíram vegetação aquática. A juntar a estas contrariedades está ainda o eterno problema de falta de água no verão alentejano, que obriga à captação do já designado «líquido precioso» nos afluentes do Guadiana, provocando a seca dos pegos, onde o saramugo tradicionalmente se refugia durante o estio. 

   Depois, há ainda uma sobrelotação do habitat, provocada por espécies que, originalmente, pertencem a outras paragens que acabam por se adaptar, influenciando a existência do saramugo, que passa a sofrer a competição de outros ciprinídeos (a maior família de peixes de água doce).  É mesmo presa fácil de vários predadores, apesar de nem todos serem peixes, embora o achigã tenha sido apontado ao longo dos anos como um devorador de saramugos.



   Há uns anos que têm surgido projectos em forma de «SOS saramugo». Em 2014, por exemplo, perto de 20 mil peixes exóticos foram removidos da ribeira do Vascão - entre o Alentejo e Algarve - procedendo-se ainda ao desassoreamento de um pego onde é conhecida a ocorrência de saramugo com o objectivo de aumentar a disponibilidade de água para a vida aquática durante o verão.
 
Descendência reforça
populações existentes 
em meio natural
 
   Mas vamos agora às boas notícias. O programa de reprodução ex-situ de saramugo, que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) desenvolve na sede do Parque Natural do Vale do Guadiana, conseguiu, à semelhança do que aconteceu o ano passado, ter êxito na reprodução de larvas de saramugo (Anaecypris hispanica).
   
   «No corrente mês de Maio foram detectados nos tanques de reprodução, larvas correspondentes a três das cinco subpopulações que são mantidas no âmbito deste programa cujo principal objectivo se centra na manutenção das reservas genéticas destas subpopulações, assim como na sua reprodução. Desde 2006, que estas populações são mantidas em tanques separados, que reproduzem o melhor possível o habitat natural da espécie», explica o ICNF em comunicado.

   Esta nova descendência servirá agora para reforçar as populações existentes em meio natural. A sua introdução acontecerá quando as ribeiras estabilizarem e mantiverem condições ambientais propícias, após a retoma do caudal, que tanto pode ocorrer no outono, no inverno ou apenas na primavera.
 
   Em média, são mantidos em cativeiro cerca de 250 exemplares, sendo que periodicamente são realizados reforços de saramugos das ribeiras para os tanques para redução dos efeitos de perda de variabilidade genética a ela associada dentro de cada grupo e assim potenciar a preservação do património genético.

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