A associação ambientalista Zero dá parecer favorável à construção de um novo armazém da central nuclear espanhola de Almaraz, a cerca de cem quilómetros de fronteira com Portugal, destinado ao depósito temporário dos resíduos "muito radioactivos"
De acordo com o comunicado no dia em que terminou a consulta pública - a Zero admitiu ter mudado a sua posição, concordando que o armazém é necessário, tendo em vista "o processo de desmantelamento da central", tratando, afinal, de "um passo defendido há muitos anos pelo movimento ambientalista dos dois lados da fronteira".
Recorde-se que a Zero começou por dar nota negativa à futura infra-estrutura, justificando que "se baseava na premissa da extensão do período de laboração da central", mas agora limita-se a sugerir algumas recomendações, onde se inscreve, por exemplo, a necessidade de "assegurar a minimização possível dos riscos que actividades que envolvem o manuseamento e armazenamento de resíduos resultantes do desmantelamento de uma central nuclear acarretam".
Os ambientalistas querem que sejam asseguradas as inspecções técnicas à construção do armazém, bem como o acompanhamento do processo por parte da Agência Portuguesa do Ambiente, que deverá, insiste a Zero, "ser informada permanentemente pelo Conselho de Segurança Nuclear sobre todos os assuntos que possam resultar em impactos transfronteiriços".
Recorde-se que a central nuclear de Almaraz, na província de Cáceres, já iniciou o processo de construção do segundo Armazém Temporal Individualizado (ATI), que vai receber os respectivos resíduos nucleares, com vista ao encerramento definitivo desta infra-estrutura no prazo de cinco anos.
A Central de Almaraz está situada nas margens do rio Tejo, a cerca de cem quilómetros da fronteira com o Alentejo, tendo iniciado há mais de um ano os trabalhos de organização das fases prévias ao seu desmantelamento que deverá ter início três anos depois de cessar a sua actividade.
A planificação aponta o encerramento da Unidade I para 2027 e da Unidade II para 2028. Nos três anos seguintes à instalação vão avançar uma série de trabalhos prévios à passagem da central para a gestão da Enresa (a empresa responsável por recolher, tratar e armazenar os resíduos radioactivos das centrais nucleares em Espanha) para dar início ao desmantelamento.
A Central já dispõe, desde finais de 2018, de uma instalação do mesmo tipo, com capacidade para receber 20 contentores de "combustível irradiado", mas o que agora se projecta será muito maior, com uma capacidade para alojar um total de 125 depósitos.
Após a conclusão do desenho, o projecto foi apresentado ao Ministério para a Transição Ecológica, bem como o estudo de impacte ambiental para obter a respectiva declaração, da qual depende a autorização para a execução e montagem.