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2022-08-25

Cigarra alentejana descoberta pelo «senhor Contente» está em perigo de extinção

Trata-se de uma espécie endémica muito rara, com distribuição reportada apenas na região do Alentejo. E existem muito poucas populações conhecidas. Estão localizadas nos distritos de Beja e Portalegre, particularmente junto a Beringel e Sousel

   É a mais ameaçada das 13 espécies de cigarras que existem em Portugal. A Euryphara contentei deve o nome ao técnico da Estação Agronómica Nacional que a capturou, à beira da estrada, perto de Ferreira do Alentejo, em 1978. Chamava José Contente. O entomólogo José Alberto Quartau, que a tem estudado, já defendeu a criação de microrreservas para sua protecção.

   Os estudos desenvolvidos nas últimas décadas, mostram que esta é a cigarra mais ameaçada em Portugal, estando à beira da extinção.

   A solução para travar esse caminho, que parece inexorável se nada for feito passará pela criação de microrreservas nos poucos locais onde a «cigarra alentejana» ainda existe, em nome da sua protecção.

   Além de rara, a Euryphara contentei é a mais pequena de todas as cigarras conhecidas no território nacional. De um verde inconfundível - por isso mesmo há quem a chame de cigarrinha-verde -, tem também um canto muito próprio: é mais agudo e difícil de distinguir na zoada do campo, num dia de Verão. José Alberto Quartau foi o primeiro a registar esse canto, em Portugal, em 2004. Mas a espécie já tinha sido descrita quase três décadas antes, em 1982.

   Quem pela primeira vez capturou um exemplar da espécie, em 1978, justamente na região de Ferreira do Alentejo, foi o técnico José Contente da então Estação Agronómica Nacional, que nesse dia acompanhava o entomólogo José Passos de Carvalho (1937-2004) numa saída de campo.

   Suspeitando logo que aquela poderia ser uma espécie nova para a ciência, José Passos de Carvalho decidiu enviar o espécime para o Museu Nacional de História Natural, em Paris, ao cuidado do entomologista Michel Boulard. Este confirmou e descreveu a nova espécie e, em homenagem ao técnico que a havia recolhido da vegetação, na berma da Estrada Nacional 121, perto de Ferreira do Alentejo, chamou-lhe Euryphara contentei. Mais tarde, a cigarra foi identificada também em alguns locais em Espanha, o que mostrou que é uma espécie ibérica.

   Das 13 espécies confirmadas no território continental, pelo menos seis estão em recuo, com as populações fragmentadas e em habitats cada vez mais residuais. Embora em situação aparentemente mais crítica, a Euryphara contentei, afinal, não está sozinha nas dificuldades.

FOTO: Museu Virtual Biodiversidade - Universidade de Évora

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