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2022-06-15

«Classificação do tapete de Arraiolos é relevante, mas não resolve problemas das bordadeiras»

 
Há mais de 40 anos - se calhar há mais de 45 - que Amélia se lembra de bordar tapetes de Arraiolos. «Aprendi com a minha tia Maria, que todos os dias tinha ideias novas. Mas a minha avó é que era a mais despachada. Mesmo a fazer os cantos e as franjas. E saía tudo perfeitinho», recorda, enquanto vai preenchendo mais uma fiada.



   «Não vivo disto. É por desporto. Bom, também é verdade que pouca gente vive disto. Sabe quanto tempo demora a fazer um tapete? E quanto se ganha por mês?», questiona Amélia, enquanto faz contas rápidas de cabeça para revelar que «não dava para receber 400 euros mensais. Nem as mais rápidas a bordarem conseguem.»
    
   Agora, de calculadora em riste, vai aperfeiçoar as contas. Já está. «Até digo mais, nem a trabalhar de sol a sol. Isto demora muito tempo a fazer. Um tapete médio, de dois por três, com duas pessoas demora um mês e pode custar pouco mais de 500 euros. É conforme», relata,
  


   O tema marcou a agenda da última edição de «O Tapete está na Rua e colheu boas notícias pela voz da própria directora regional de Cultura do Alentejo, para quem esta tapeçaria «tem um valor que ultrapassa os limites do País», estando a avançar a candidatura na Unesco a património imaterial cultural, depois de em Setembro de 2021 os tapetes terem assistido à publicação do registo oficial no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

   Ainda assim, Rui Grilo, da Câmara de Arraiolos, admite que há vida para lá da classificação da Unesco. «É relevante e dá uma visibilidade muito grande,», reconhece, mas prefere puxar pelas vertentes económica, histórica e etnográfica, alegando que a ambicionada classificação, só por si, «não resolve os problemas das bordadeiras do dia-a-dia.» 
 


   Ou seja, justifica, «o que interessa é arranjar forma do tapete de Arraiolos poder ter continuidade. De haver pessoas que continuem a produzir. De nada valerá a Arraiolos se, em questões específicas e fundamentais, não houver um reconhecimento do Estado Português, que é quem tem as condições para que as expressões artesanais possam ter viabilidade futura».
 

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