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2022-11-14

Como um disco pode ajudar as Festas de Santa Cruz a serem património nacional

 
Alandroal lançou um singular disco que ambiciona reforçar a candidatura das Festas da Santa Cruz, na Aldeia da Venda (freguesia de Santiago Maior) ao Inventário do Património Cultural Imaterial Nacional. O dossiê já está a ser preparado à «boleia» de uma parceria entre a Câmara do Alandroal e a Direcção Regional de Cultura do Alentejo

TEXTO | Roberto Dores

 
   Loendro - assim se chama a obra de Raia e Cardo Roxo - vai ao mais íntimo da cultura e tradições locais do Alandroal, onde encontrou o Cântico ao Horto das Oliveiras - entre outras manifestações - traduzido no ponto alto das Festas de Santa Cruz. Trata-se de um ritual secular na Aldeia da Venda, em que jovens, que assumem o Grupo da Mordoma, transportam a Santa Cruz, numa procissão vigiada por homens armados de caçadeira.


   O Grupo da Mordoma vai encontrar-se com o Grupo da Madanela, sempre a cantar, representando a absolvição de uma pecadora.

   O presidente da Câmara do Alandroal, João Maria Grilo, considera tratar-se «das manifestações culturais mais diferenciadoras do concelho», sublinhando o «valor cultural e histórico» para que seja dada «luz verde» à sua preservação.
   É aqui que entronca o disco agora lançado. Logo na primeira faixa, António Bexiga (viola campaniça), Antony Fernandes (gaita de fole) e Carmina Repas Gonçalves (viola da gamba) dedicam cerca de sete minutos ao cântico.

   «Há uma componente deste projecto que está intimamente ligado ao levantamento e demonstração da singularidade do Cântico ao Horto das Oliveiras e a toda a simbologia da festa da Santa Cruz para nos ajudar na candidatura a património imaterial de Portugal», sublinhou João Maria Grilo, aguardando que este desígnio «chegue a bom porto, porque é reconhecido por todos como uma singularidade do território».


   Além da Festa da Santa Cruz, o disco convida a uma contradança popular com o António Claréu, no Rosário, as Saias de Ferreira, com o António Coelho e o Dino, as décimas e o som que fazem quando são ditas pelas vozes do Patacho e do Mancha.

   Avançou António Bexiga ter lido o «Ti Limpas» com o Ricardo Pacífico, cantar mágoas e mangações. Nas Hortinhas, foram guiados pelo Zico, pelas suas histórias e cantigas que vão saltando das fitas das cassetes e da memória das gentes para os ensaios do Trigueirão do Relheiro. Da memória gravada em fita aprenderam a Abertura do Auto da Criação do Mundo, além dos Bonecos de Santo Aleixo, que marcaram várias gerações de alandroalenses.
 
Preservar cultura e tradições 
antes que se percam para sempre

   João Maria Grilo justificou o empenho da autarquia neste projecto tendo o futuro no horizonte. «Isto é preservar a memória e dar-lhe uma nova roupagem. É uma interpretação dos músicos que foram convidados para desenvolver este trabalho junto das pessoas que são o repositório das tradições. É um desafio, é uma reinterpretação que ajuda a perceber e a prolongar tradições no tempo», explicou João Maria Grilo.
 

   O edil recorda que vivemos num tempo em que «a escassez de pessoas nos territórios  também faz com que as tradições vão deixando de ter suporte. Todos os dias corremos o risco de mais uma tradição, uma canção e mais um elemento  da cultura se perder para sempre, porque ninguém a  transformou, ninguém gravou, nem passou a outras pessoas».
 

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