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2022-10-17

Da cadeira de rodas à caminhada por Juromenha foram 4 meses de distância

Eis a história de uma holandesa que se apaixonou pelo Alentejo. Ao ponto de ter comprado uma casa no Rosário (freguesia do Alandroal) onde vive grande parte do ano. Caminhámos ao seu lado entre a ruralidade que se estende à volta de Juromenha. Elsa sentiu-se como a «grande vencedora». E tinha razões para isso    

TEXTO | Roberto Dores

 
   Elsa Hogesteeger. 77 anos. Um acidente «roubou-lhe» o andar há quatro meses. Precisou de uma prótese na anca, seguida de muito descanso e posteriorfisioterapia. «Só me deslocava em cadeira de rodas. Foram dias muito difíceis», recorda, frazindo o rosto quando fala das «dores tão grandes» que sentia.

   A evolução chegou com canadianas e, aos poucos, foi ganhando autonomia. «Comecei a andar sozinha e senti que estava a ir no bom caminho. Passei a acreditar que isto que estou a fazer hoje era possível». 


   E o que Elsa está a fazer hoje é tentar completar a primeira caminhada após a operação. De bastão em punho, tem pela frente cerca de quatro quilómetros por caminhos, (mais ou menos) irregulares, que começam no coração de Juromenha, descem a escadaria até às margens de Alqueva e percorrem frentes agrícolas com paisagem a perder de vista.
 
   Estamos ao lado de Elsa no meio da prova que se inscreve no Festival de Caminhadas Transalentejo. O terreno é plano. Pensámos que por estar ofegante teria pouca disponibilidade para falar. Mas não. A nossa protagonista, afinal, abria porta à conversa.

   Contou-nos que veio para o Alentejo «encantada» com a região. Que chegou a experimentar o Algarve, mas que havia «gente a mais». Que depois da morte do marido quis sair da Holanda. Que percorreu mais 5 mil quilómetros em África, entre Moçambique, Zimbabué e Namíbia. 

   «Adoro África, com a savana, e acho o Alentejo muito parecido. Decidi comprar uma pequena casa no Rosário, mas com uma vista linda», ia contando à medida que debelava metros. «Sinto-me tão bem a fazer esta caminhada. Vou chegar ao fim de certeza», afirmava confiante, com a meta (vamos chamar assim) à vista.

»» E confirmou-se. Elsa completou a caminhada, tendo recebido o certificado que atesta o êxito. O companheiro chegou depois.
 
    Ficámos a saber que o companheiro, uns anos mais velho, estava mais atrás. Ele tem casa em Madrid, o que a leva a ir a Espanha com frequência, mas Elsa não é muito adepta da vida do lado de lá da raia. Vamos a um exemplo? «Os espanhóis encontram-se em cafés, bares, restaurantes. Os portugueses convidam logo para a casa deles. As pessoas são muito simpáticas e gosto muito disso», justifica.
 
»» Da Fortaleza ao centro náutico, passando pela agricultura e alojamentos hoteleiros. Juromenha é terra de futuro
 
   O presidente da Câmara do Alandroal esteve entre os cerca de 40 participantes na caminhada que sustentou o rótulo de «Juromenha, Sentinela do Guadiana», tendo destacado o potencial que se foi revelando ao longo do passeio.
  
 
   «O percurso mostrou o que está aqui a acontecer e o que pode vir a acontecer no futuro», sublinhou João Maria Grilo, após o grupo ter passado pela fortaleza, que se encontra em obras de recuperação, contando em carteira com um projecto REVIVE para dinamizar turisticamente o seu interior. Ou seja, após o investimento público vai avançar o investimento privado.

   «Descemos e passámos na zona do futuro centro náutico, que está em frente ao centro náutico de Olivença», descreveu o autarca, que deposita empenho nesta infra-estrutura como pólo de atracção de visitantes a Juromenha à beira do rio Guadiana.

 
   Mas houve mais. «O percurso também nos permitiu ver investimento na agricultura, no alojamento local e permitiu ver uma vila que tem tudo para dar certo. Um exemplo de reabilitação de valorização do património para atracção de investimento e de pessoas.»

   O presidente da autarquia aguarda que à boleia do programa Portugal 2030 seja possível financiar projectos. «São investimentos que fazem parte de Juromenha e é o desbloquear de décadas de inacção e de falta de estratégia», avança o edil, para quem, acrescenta, «não é preciso nenhuma estratégia especial para se perceber que Juromenha tem este potencial que precisa de ser valorizado».
 

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