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2023-01-30

Da casa do desengace à adorna. Porque construíam adegas em plano inclinado?

 
Fomos a Borba à procura da resposta. É por lá que se contam histórias sobre a ancestral produção do vinho em talha à boleia de um museu interactivo que já foi adega. Abre-se a porta da rua e lá está o plano inclinado. Sim, há explicação

TEXTO | Roberto Dores
 
   O que hoje funciona como recepção da Casa  Museu Interactiva de Borba,  - pelo menos, aos olhos do cidadão comum - foi em tempos arquitectada como casa do desengace, onde se deixa perceber o declive mais acentuado. 

Da casa do desengace já se espreita a adorna, perante o declive da adega que foi do «avô Mariano» e que as netas transformaram em museu

   Era ali que a uva era descarregada a partir dos carros, sendo logo batida. O mosto - sumo, se preferir - pele e grainhas seguiam pela canalização rumo à adorna. O que é? Nem mais nem menos do que a cisterna construída no centro da adega para onde havia de escorrer o mosto. Tem uma porta e ripas em madeira, como se de um alçapão se tratasse. Na eventualidade de alguma talha rebentar, seria para aqui que o vinho iria «desaguar».

A adorna, tal e qual como foi construída. Concentrava o mosto que escorria pela adega  

   Da adorna o vinho era retirado com recurso a cabaços para dentro dos tachos de folha-de-flandres. Estão ambos representados no museu. Os cabaços em forma de pêra (mais ou menos) e produzidos por planta natural são apresentados em ponto mais reduzido - os que a adega utilizava seriam bem maiores - enquanto os tachos de folha-de-flandres lá continuam na sua dimensão de sempre. 

   Avancemos na produção? Fixemo-nos em Setembro, o mês em que o vinho saía dos tachos para ser  depositado nas talhas, outra vez tendo os cabaços como utensílio privilegiado. O tinto ficava por lá 45 dias e o branco 40. Mas ainda não estavam prontos a servir. Haviam de regressar ao exterior e permanecer nos alguidares a fim de trocarem de talhas. 20 dias volvidos era tempo de ir à adega provar o vinho. 

O Museu exibe a história da produção do vinho em talha, passo a passo, com recurso à tecnologia
 
   Esta e outras histórias percorrem a Casa  Museu Interactiva de Borba inaugurada pelas primas Teresa e Amélia Rézio, que recuperaram o legado deixado pelo avô Mariano, traduzido numa antiga adega, datada do século XIX, que  laborou na produção de vinho até 1957, quando a Adega Cooperativa de Borba começou a funcionar. 

  Por lá se mantêm 46 talhas originais que percorrem o interior do edifício. O vinho era, naturalmente, o rei, mas também dali saía vinagre e aguardente.


»»Pode ver em baixo a reportagem vídeo do Sul Ibérico feita há um ano.
 

 





 

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