O fim de tarde já deu para o gasto. Contamos perto de uma dezena de achigãs na rede. Mas há largos minutos que nenhum peixe vem à linha. O baixo nível das águas de Alqueva pode ter influência? Os pescadores dizem que sim
TEXTO | Roberto Dores
Outubro costuma ser generoso em achigã, mas Adelino Feijão já foi contemplado com melhores dias nas margens de Alqueva, em pleno Centro Náutico de Monsaraz, onde o fomos encontrar. A tarde até começou bem, com vários lançamentos a trazerem peixe no anzol.
«Este já é muito bom. Quase um quilo. Este aqui também. São quase dez peixes. Já dão uns bons petiscos. Têm apenas as espinhas da barriga. O resto é carne. Grelhados e com o molho de poejos são muito bons», congratulava-se o pescador, dando por bem empregues as mais de duas horas que por aqui esteve. «Também é mais por distracção», relatava. À medida que o sol se ia escondendo deixava de haver sinais de peixe.
«Parece que dantes havia mais. De Agosto até Outubro fazíamos melhores pescarias. Mas isto do peixe nunca é certo. Às vezes dá muito, as vezes não dá nada. Os achigãs têm uma fase que, em nos vendo, raspam-se logo», explicava Adelino Feijão entre mais uns lançamentos com a amostra a regressar sozinha à margem. «Também se eles andassem sempre de boca aberta já não havia», ironizava.
Será que a seca pode ajudar a explicar a escassez de peixe face a um Outubro dito normal? Adelino acha que sim. Aponta para ilhas que já não eram vistas há alguns anos, mas que este Verão ficaram destapadas.
«Se calhar o facto da barragem estar muito mais baixa também tem influência. A chuva já está a fazer muita falta. Até para a pesca», admitia, revelando que o tempo mais frio que vem a caminho acabará por «empurrar» o peixe mais para o fundo da albufeira. «Não quer dizer que não se tirem alguns, mas já vai ser mais difícil».
Ao fim de meia hora de lançamentos infrutíferos, Adelino Feijão decidiu que era tempo de arrumar o estojo e regressar ao Outeiro. Talvez regresse amanhã.