Notícias

2023-06-25

Era para ser o arraial mais pequeno do Mundo. Mas veio gente de todo o lado

 
Manuel Clareu e Rosa (na foto de topo) são dois dos resistentes de Monte Abaixo, um lugar entre Terena e Ferreira de Capelins, que quase passa despercebido na imensa paisagem. O casal  mora ali há 42 anos, desde aquele 24 de Junho em que juntaram os «trapinhos». Foi Rosa que utilizou a  expressão. Conheceram-se ao som do acordeão. «Ele animava por aí os bailes. Eu ia lá e fixei-me nele», assume a mulher entre gargalhadas. Manuel confirma e assegura que aqueles olhares de Rosa também nunca lhe escaparam. Ela era a tal. E foi.

TEXTO l Roberto Dores

 
      Este sábado celebraram os 42 anos de casados com uma animação sem precedentes. Se já era dia de festa na casa que recuperaram em Monte Abaixo, o que dizer com um arraial à porta. Foram dos que ajudaram a compor a festa em colaboração com a Junta de Freguesia de Terena, que este ano decidiu fazer um arraial numa «terra onde nunca acontece nada». Foi mesmo assim que os moradores se apresentaram.
 
Manuel Clareu e Joselina Paiva, presidente da Junta de Terena
 
   Manuel emocionava-se ao revelar o «orgulho» que sentia com a animação que fechou a sua rua ao trânsito - e a única de Monte Abaixo - ornamentada a rigor para celebrar os Santos Populares. «Somos aqui uns 10 a 12 moradores. Aos fins-de-semana talvez uns 20. Nunca tivemos nada disto», comentava.


   Era nessa lógica que Monte Abaixo até admitia receber, com pompa e circunstância, o «arraial mais pequeno do Mundo», mas desde cedo se percebeu que não iria ser assim. Os carros estacionados no descampado à entrada da localidade anunciavam «casa cheia», enquanto no recinto adaptado à festa iam ao lume sardinhas, febras e entremeadas. Os populares aguardavam de prato em riste, enquanto a imperial saía da torneira sem tréguas à vista. O fim de tarde exibia uns generosos mas abrasadores 35 graus. 

 
   Contámos mais de 200 pessoas. «Como não é terra de ninguém veio gente de todo o lado. Isto está tão lindo», insistia Manuel Clareu. E ainda vinha por ali o bailarico com um animador local, que fez questão de se aplicar ao limite para ajudar a compor o ramalhete, não deixando escapar a oportunidade de pôr todos a cantar os parabéns ao casal aniversariante. Siga o baile que a noite ainda é uma criança. 
 

   Mas, afinal, o que faz uma festa destas num sítio como este? Escutemos a presidente da Junta de Terena, Joselina Paiva: «Os moradores pediram para fazermos uma sardinhada. Nós fazemos festas em Terena e Hortinhas e, desta vez, decidimos fazer para todos», justificava a autarca, assumindo estar surpreendida com tremenda adesão, mas congratulando-se com a aposta ganha.

   
   O presidente da Câmara do Alandroal, João Maria Grilo, destacava a «valorização» que o arraial despertava entre os moradores de Monte Abaixo. «Não sabíamos o que ia acontecer, mas percebemos que havia vontade das pessoas em terem aqui qualquer coisa. E, como tenho dito, não deixamos ninguém trás», reiterava João Maria Grilo, para quem esta festa permitiu «sair da rotina» dos locais onde normalmente se fazem os eventos. «Quem aqui vem sente-se bem-vindo e isso permitiu fazer este dia diferente», enfatizava o edil.

 
   O presidente do Município admitia ainda que os tempos estão a mudar por estas paragens. O despovoamento de décadas tem sido estancado e assiste-se à chegada de novos moradores, ainda que seja para passar fins-de-semana e férias. São visíveis casas recuperadas. É um bom sinal.
 
 


 
 
 
 
 

Artigos Relacionados

« Voltar