2024-03-30

Este cuco assalta ninhos e dá os filhos para adopção. Acabou de chegar ao Alentejo

Começaram a chegar à região banhada pela barragem de Alqueva os primeiros Cucos-rabilongo. Assim se chama a espécie. São aves parasitas que assaltam ninhos para fazerem a postura dos seus ovos, mas depois desaparecem e deixam os seus filhotes entregues às aves «vitimas do assalto». São elas que os criam

TEXTO | Roberto Dores
FOTO | Manuel Cascalheira
 
   Os ninhos mais procurados pelo cuco-rabilongo são os da pega, mas também do gaio e gralha-preta. O casal de cucos trabalha em equipa, recorrendo a uma manobra de diversão para obrigar as «vítimas» a saírem dos ninhos por breves instantes. Mas que são suficientes para os parasitas garantirem sucesso no assalto.

   É o macho cuco que ousa aproximar-se dos ninhos, desafiando a pega a persegui-lo, como explica o especialista Gonçalo Elias na página Aves de Portugal. É no momento em que a pega sai do ninho para afugentar o suposto intruso, que a fêmea entra em cena, assaltando o ninho e pondo um ovo. Depois foge, deixando a cria entregue à «mãe adoptiva». 

   Os cucos irão repetir o «golpe» mais duas ou três vezes nas horas seguintes, uma vez que as fêmeas fazem posturas que rondam entre três a quatros ovos, tendo desenvolvido uma outra estratégia de reprodução, para garantir que os filhotes serão uma espécie de líderes dos ninhos junto dos «irmãos».

   Destaca Gonçalo Elias que como o período de incubação do cuco é muito curto - de 12 a 14 dias - os juvenis vão nascer antes dos filhos legítimos das pegas - com período de incubação de cerca de três semanas. Uma vantagem que garante a supremacia sobre o hospedeiro. «Ao desenvolver-se primeiro torna-se mais forte e isso dá-lhe vantagem competitiva no ninho», acrescenta.

Devorador de lagartas
 


   Ainda assim , o Cuco-rabilongo exibe uma função considerada de «muito útil nos ecossistemas», com tradução no controlo das pragas de lagartas processionárias que, além dos pinheiros, atacam também os sobreiros.

   Esta é a época crítica em que a lagarta do pinheiro (ou processionária) representa maior perigo em caso de contacto com os humanos, traduzindo efeitos nocivos como irritações na pele, nos olhos e no aparelho respiratório, que podem chegar ao enfraquecimento e até vertigens. Para os cães e outros animais, o contacto com a lagarta pode mesmo ser fatal.

   O alerta dado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) mantém-se actual há vários anos, sobretudo, porque nos últimos tempos há o registo no Alentejo de  «ataques de elevada intensidade desta praga», que são atribuídos, principalmente, às condições climáticas verificadas.

   As lagartas libertam milhares de pêlos urticantes que se espalham pelo ar, podendo causar graves reacções alérgicas, pelo que a DGS alerta que nas «escolas e outros locais onde estejam presentes crianças, deve-se impedir o seu acesso à zona das árvores atacadas», sobretudo nesta época do ano, quando as lagartas descem dos pinheiros. Os cuidados devem  ser redobrados até Abril.
 

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