2022-09-08
Fomos à vindima. Encontrámos uvas queimadas e outras ainda verdes
Primeiro foi a seca. Depois chegou o intenso calor de Julho. Uma conjugação nefasta para as vinhas do Alentejo. Mas é na adega que se vai avaliar a safra
REPORTAGEM Roberto Dores
«O calor de Julho obrigou as uvas a amadurecerem à força, mas depois não ganharam a qualidade e o açúcar que é habitual», relata António Gonçalves, produtor de vinho da talha, que é proprietário da Adega em Campo Maior.
Mostra meia dúzia de cachos. «Algumas uvas estão queimadas e algumas ainda estão verdes, porque estavam mais protegidas com as folhas e não apanharam sol», revela.
Estamos numa quinta entre linhas de vinha na saída de Campo Maior em direcção à barragem do Caia ao lado de um produtor onde o vinho da talha tem berço privilegiado. Será na adega que se há-de tirar a provas dos 9. «Vamos usar o aparelho para perceber o grau, depois de moer as uvas e tirar um bocado de mosto», revela, ainda na esperança de aproveitar uns quilos.
Pouco mais de meia hora chegou para colher os cachos e já é hora de viajar até à adega, onde o passo seguinte puxa pela força de braços para colocar as caixas em cima da balança. A pesagem aponta aos 317 quilos, mas é preciso mais uva para garantir a produção de 500 litros de vinho branco à boleia das castas Antão Vaz e Rabo de Ovelha.
Já os tintos deverão chegar aos 3 mil litros, mas essas uvas só deverão começar a ser colhidas para a semana. E talha. Só produção talha.
António Gonçalves diz que pretende preservar a tradição que os romanos por cá deixaram há 2 mil anos. «Tenho ali sete talhas de barro. Isto é uma adega que foi concebida mesmo para a produção do vinho da talha», diz-nos, assumindo a ambição moderada do projecto ainda em fase inicial.
António Gonçalves procura ganhar espaço no mercado. «Já tenho restaurantes em Campo Maior e Elvas e estou na casa do Alentejo, em Lisboa. Vamos crescendo com calma». Pelo São Martinho regressamos para provar o resultado.