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2022-04-04

«Guerra das Laranjas» foi em 1801 mas ainda prejudica Alandroal e Olivença

 
O alerta parte do presidente da câmara do Alandroal, João Maria Grilo: «Isto vai ter que ser resolvido algum dia», diz, reportando-se aos prejuízos que o diferendo entre Portugal e Espanha quanto à soberania sobre Olivença - na sequência das Guerra das Laranjas (ver texto abaixo) - representa para ambas as localidades. 

 

João Maria Grilo, Presidente da Câmara do Alandroal e da ADRAL


Eis a explicação: «Não podemos concorrer a fundos europeus, porque não somos dois portugueses e não somos dois espanhóis. São mais de 200 anos de indefinição sobre se a linha é aqui ou se é ali e ninguém quer tomar decisões. Isto já não faz sentido. Pelo menos, que as populações não sejam prejudicadas», sugere o edil, que há vários anos defende a necessidade de aproximar ambos os lados da raia.

A construção de uma ponte habilitada a fazer a ligação rodoviária entre Juromenha e Vila Real (Olivença), para pessoas e mercadorias, é uma das prioridades apontadas pelo autarca, para quem seria o abrir de portas a «visitantes e investidores» espanhóis. Há apenas cem metros a separar Juromenha e Vila Real em linha recta sobre o Guadiana. 

Apesar das fortes ligações culturais e até familiares entre ambas as populações, ainda hoje, para chegar a Olivença, a população de Juromenha tem que dar a volta por Elvas, ao encontro da Ponte da Ajuda, percorrendo mais de 30 quilómetros.

É por estas e por outras contrariedades regionais que João Maria Grilo - também presidente da Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL) - assinou recentemente um artigo no Novo Semanário em que aborda o «País do meio», pegando no projecto Converge, do arquitecto António Poças, que pretende, através de intervenções artísticas de autores de ambos os países, marcar, de ambos os lados, os locais de ligação existentes ao longo dos 1234 quilómetros de extensão da fronteira.

Num olhar sobre a raia que cruza o Alentejo e a Extremadura, João Maria Grilo admite que «se não tivessem a infelicidade de ser fronteira, se calhar estas regiões eram mais desenvolvidas», assinala, apontando que «além da fronteira ser toda mais deprimida que o litoral, as zonas mais isoladas e com menos dinâmica são, precisamente, o Alentejo e Extremadura». 

Diz o autarca que se trata de «uma espécie de vazio que apanha as duas regiões, que por razões, como baixa densidade populacional, baixo investimento têm ficado sistematicamente mais para trás». 

Assume que «já se fizeram algumas coisas, mas há muito mais para fazer», colocando na agenda a importância de se avançar com estudos prévios  sobre a navegabilidade do Guadiana internacional entre Badajoz e Alqueva. 

«Trata-se de, através da água, abrir a porta do Grande Lago às dinâmicas económicas e turísticas de uma cidade com 150 mil habitantes e com 700 mil habitantes na sua área de influência, num movimento que terá sempre dois sentidos», escreveu o edil no Novo Semanário, acrescentando que «há um Douro por concretizar nesta região». Recordou que, do lado espanhol, os estudos já existem e a vontade política é evidente.
 
 
O que foi e que consequências teve a «Guerra das Laranjas»
 
A Guerra das Laranjas foi desencadeada durante três semanas na sequência de um acordo entre Napoleão e Carlos IV de Espanha para a partilha de Portugal, prenúncio das invasões francesas. A 29 de Janeiro de 1801, Espanha e França enviaram um ultimato a Portugal no sentido de abandonar a aliança com a Inglaterra.

A 27 de Fevereiro, Carlos IV declara Guerra a Portugal. Em Maio deu-se a invasão do Alto Alentejo, por um exército comandado por Manuel Godoy, visando as praças de Olivença, Campo Maior, Castelo de Vide e Portalegre, entre outras. A 6 de Junho foram assinados os dois acordos de paz, um com Espanha e outro com França.

Com este acordo a Espanha restituía as praças conquistadas à excepção de Olivença. Portugal foi obrigado a pagar uma indemnização de 25 milhões de libras à França e a fechar os portos aos navios ingleses.

A designação de «Guerra das Laranjas» surge associada a um gesto do primeiro-ministro e chefe militar espanhol, Manuel Godoy, que enviou um ramo de laranjeira colhido nos campos de Elvas à rainha de Espanha, Maria Luísa, de quem se dizia ser amante, para a informar de que tinha tomado Olivença.

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