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2023-06-10

Hortinhas acendeu o lume de chão para comer sopas do tempo dos avós

 
 
A carne que vai acompanhar o cozido de grão está no ponto. Ali ao lado dos enchidos que reforçam o sabor à mesa. Estamos nas Hortinhas (Alandroal), onde este sábado foi dia de lançar mãos a uma velha tradição. A população recordou o sabor da comida confeccionada na cocaria. Sopas dos tempos dos avós cozinhadas em panelas de barro e lume de chão. A lenha era de azinho 

TEXTO l Roberto Dores
 
 
   «É um esforço que estas mulheres aqui estão a fazer para defenderem as tradições e para não as deixarmos morrer. Queremos passar isto à nossa juventude», justifica José Maneiras, o conhecido ´Zico´que é presidente da Associação Núcleo de Cultura e Formação de Hortinhas, que promoveu esta iniciativa.

   José Maneiras alerta para a importância das novas gerações poderem degustar os pratos que os antepassados comiam quando trabalhavam no campo e não só, puxando pela gastronomia como fonte de identidade cultural.

   Houve cozido de grão e de feijão, caldeta, sopa de beldroegas, de repolho, de carne e mais umas quantas alternativas ao gosto de cada um.
Rosa Leitão ainda tem bem presente «os grandes lumes» da cocaria dos tempos em que andou ao tomate para os lados de Juromenha, quando tinha 18 anos. «Andei na Várzea Redonda, onde tínhamos uma cozinheira. Cada um levava a sua  panela, dizia o que queria e a cozinheira fazia», relembra.
 

   As cozinheiras eram então designadas por «coqueiras» e, além de terem a responsabilidade de «olhar» pela confecção dos alimentos, assumiam um papel primordial na organização do trabalho rural. Eram elas que determinavam o sítio do fogão, colocavam as misturas nas panelas de barro e havia épocas do ano em que asseguravam três refeições diárias. Já agora, também tomavam conta das crianças, filhos dos trabalhadores rurais.

   Mas este sábado fomos ainda esclarecer uma dúvida à volta da cocaria. O que passa, afinal, com os chícharos para haver tão poucos pelo Alentejo? O chícharo é uma leguminosa semelhante ao tremoço e é cozido como o grão, para acompanhar ou assumir-se como «personagem principal» entre as sopas mais célebres.

   José Maneiras arrisca uma teoria. A crise estrutural da agricultura terá levado ao desinteresse deste legume. «As pessoas deixaram de produzir, porque os grandes investidores apostam na agricultura comparticipada», refere. Porém, garante que os chícharos fazem muita falta à confecção das sopas.  «É um paladar diferente e faz uma sopa muito original. Digamos que é um produto bravo fundamental», resume o dirigente.
 

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