2023-06-17

Irmãs Flores revelam uma jóia inegociável. Foi feita há 40 anos a 8 mãos


A obra exibe-se logo à entrada da exposição que sublinha os 50 anos de carreira das Irmãs Flores na galeria D. Dinis. Foi feita em 1975 e tem uma história curiosa que vale a pena conhecer

TEXTO l Roberto Dores
 
   Falamos da «cantarinha» que pode ser apresentada como uma espécie de ex-líbris das irmãs Maria Inácia e Perpétua Fonseca. «Não tem valor, porque faz parte da nossa história», dizem quase em uníssono, enquanto vão descrevendo os caminhos que conduziram até esta peça sui generis que nem existe na colecção de Estremoz. 


   «A filha da senhora que nos ensinou - Sabina Santos - passou por um antigo bairro, na rua de São Bento e viu uma cantarinha muito estragada», começa por contar Maria Inácia. «Ela era directora de um colégio em Lisboa. Desenhou a cantarinha num cartão-de-visita, que ainda hoje guardamos, e entregou-o à mãe para que a nossa mestra tentasse fazer». 

   Vai daí, deitaram mãos à obra. Ou melhor, deitaram oito mãos à obra. «O meu irmão fez o cântaro na roda de oleiro, eu fiz os folhos e os bonecos, que são sargentos no jardim. A minha irmã pintou aquilo tudo e a dona Sabina fez a decoração. Deu nisto», mostra orgulhosa Maria Inácia, admitindo tratar-se de uma «relíquia», revelando que só conhece mais dois exemplares semelhantes. Um ficou para Sabina Santos e o outro foi entregue ao irmão da mestra, que era o dono da olaria.

   Esta e outras histórias podem ser ouvidas até 2 de Setembro, na exposição «50 Anos em 50 Bonecos», que marca o meio século de carreira das Irmãs Flores. «Está aqui parte da nossa vida, que tem tradução em centenas de peças. Vamos continuar por cá», garantem. 

   O presidente da Câmara de Estremoz, José Daniel Sádio,  destacou que aos dias de hoje «é muito fácil falar de bonecos de Estremoz e reconhecer o seu valor à escala global», depois da classificação há cinco anos como património mundial, mas elogiou as Irmãs Flores por terem assumido a promoção do figurado durante 45 longos anos antes da classificação da Unesco.


   «As Irmãs Flores e outras gerações anteriores foram fundamentais para que esta arte tenha perdurado», destacou o autarca, para quem a oportunidade de celebrar os 50 anos de carreira das artesãs «é uma sorte e uma felicidade. Estamos a partilhar este trabalho fantástico de uma família que se dedicou por inteiro ao nosso figurado», acrescentou José Daniel Sádio.  

   E o que tem a dizer o Grão-Mestre da Confraria do Boneco de Estremoz sobre a carreira das Irmãs Flores? Escutemos Alexandre Correia: «Acabei de escrever no livro de honra que são um estandarte. Não só de Estremoz, mas do artesanato nacional. No nosso país as Irmãs Flores são uma referência de bem saber fazer esta arte. É um privilégio assistir a este sentido de missão que tem elevado ao mais alto nível a cidade e o boneco de Estremoz.»
 
 
 
 
 
 

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