2023-07-12

Já conhece o loureiro. Sabia que também existe a loureira? E como se distinguem?

 São ambos utilizados na cozinha e garantem o mesmo sabor no prato. Mas só as fêmeas deitam fruto. Um detalhe dos nossos campos que revelamos nesta história 
 
TEXTO l Manuel Inácio Pereira
FOTOS l M.I.P.C. / (D.R.)

   O loureiro (Laurus nobilis de nome científico atribuído) existe na extensa região Alentejo, mas não só. Em especial junto a recursos hídricos, por ser uma planta que necessita de água e luz solar em abundância. Surge enquadrado na categoria de arbusto ou árvore, tratando-se de uma espécie silvestre que pode atingir cerca de 18 metros de altura, os mais proeminentes, sendo usual vê-los com cerca de menos de 10 metros de porte
 
   Emana um odor característico, especificidade do tipo de planta que o é e, embora as suas folhas e frutos não sejam comestíveis, de forma directa, estas são usadas com frequência nos cozinhados tradicionais, como condimento de auxílio para a confecção de pratos gastronómicos. A 'antiga' cozinha não as dispensa e o precioso auxílio destas folhas, ervas ou caules, oriundos da região, comprovam a nobreza destas plantas.

Louro verde após recolha para secagem
 

   Como a maioria de todas as outras plantas, o loureiro surge por propagação das sementes caídas no solo, o que demora largo período de tempo até à sua germinação ou por plantio via estacaria, mais frequente entre produtores da espécie, após enraizamento e desenvoltura da planta, para recolha de folhas no fim do Cerão ou começo do Outono e, correspondente colocação em embalagem para fins de comercialização, pois as suas folhas secas têm um sabor mais forte no uso culinário, que desaparece com o passar do tempo.

Folha de loureiro seca
 

   Esta é uma verdadeira relíquia, da ainda laurissilva existente em determinadas regiões do país. Suporta grandes podas, depois de ter tamanho considerável e, quase sempre rebenta com maior vigor, depois de lhe ser aplicada essa acção.

   Acontece que o loureiro é uma espécie dióica, o que significa que, existem exemplares de loureiro macho e outros de loureiro fêmea.
 


Nem toda a 'gente' o sabe!
 
   Pergunta-se: então e como se distinguem? Parece ser a questão que se segue. Respondemos sucintamente.

   O primeiro (loureiro macho) produz flores, pouco antes do início da Primavera e esta permanece visível, até ao mês de Abril. Não apresenta frutos (baga) e a mesma flor tem a função de polinizar as flores que o loureiro fêmea também produz. E está o mito incrustado na população, o de que só as folhas do loureiro macho possuem cheiro. Errado!

   O segundo (loureiro fêmea) apresenta floração na mesma altura, mas só este exemplar ostenta fruto em forma de bagas, de cor roxo tão escuro, quase negras e reluzentes quando maduras, semelhantes a azeitonas, embora de menor tamanho, no interior das quais se podem encontrar as sementes de loureiro. 

   Estas bagas, depois de secas, também podem ser trituradas ou moídas e usadas como especiaria em variados pratos culinários. Bem como as suas folhas, pois também apresentam o cheiro característico a louro.

Loureiro fêmea com as suas bagas já secas
 
 
   Por isto, umas ou outras (as folhas), cheiram de igual forma e intensidade e são bastante utilizadas para tempero - trituradas ou inteiras; quando utilizadas por inteiro, são geralmente retiradas do alimento antes do consumo do prato, pois têm uma consistência coriácea (semelhante à de um couro), mesmo após fervura/cozedura - apenas servem para dar sabor ao cozinhado.
 
   Usadas em marinadas, quase sempre a folha de louro se adiciona de véspera ao produto a temperar; já nos refogados/estrugidos, a mesma é acoplada no ato de confecção do prato e, ali se mantém a conferir a sua função
 
   Mas atenção! - é muito frequente a confusão feita pela população, em especial aquela pouco conhecedora dos 'segredos' do campo e da silvicultura, ao ponto de se tomar por loureiro outras espécies com aspecto semelhante; é o caso do azereiro (Prunus lusitanica) ou o loureiro-cerejeira (Prunus laurocerasus), que por não libertarem qualquer cheiro, passam imensas vezes por ser exemplar de loureiro-fêmea, o que está duplamente errado, porque nem são loureiro e, para o ser, têm mesmo de exalar o tal aroma, independentemente do 'sexo' da planta, como já referimos atrás no texto.

Loureiro macho prestes a florir

   Portanto, apurem-se o olfacto e a visão para discernir e optar na escolha desta espécie dióica – e já quanto ao sabor, se foi usada folha do loureiro (do macho ou da fêmea) - esse não engana. Sabem mesmo a louro, ambas!
 

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