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2023-05-31

Lince ainda está em perigo. Mas população já «respira» melhor

 
Digamos que as notícias são boas, mas carecem de consolidação no médio a longo prazo. Ou seja, a evolução do Lince-ibérico está a ser positiva, tendo passado do nível de «criticamente em perigo» para o apenas «em perigo». Porém, para se atingir o objectivo de tornar a sua população auto-sustentável - entre 2035 e 2040 - , alcançando uma população ibérica entre 700 a 750 fêmeas reprodutoras, num total de 3 500 exemplares, ainda há um longo caminho


   É o que diz a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), que esta quarta-feira inaugura a exposição “O Lince na Península – Conectar territórios e consolidar populações”, no Consulado Geral de Portugal, em Sevilha. A mostra já esteve em exibição durante a 39ª edição da Ovibeja, mas agora ser visitada na capital da Andaluzia até segunda-feira, 5 de Junho.

   Os responsáveis da CIMBAL ambicionam alertar para a necessidade de conservação da espécie, numa altura em que, segundo dizem, «é preciso continuar o trabalho de conservação no terreno e nos centros de reprodução, e também o esforço de comunicação junto do público sobre o que se fez, porque e como se fez e o que continuará a ser feito para se conseguir retirar o Lince-ibérico da lista de espécies ameaçadas».

   Os resultados dos censos de 2021 relativamente à evolução dos linces-ibéricos em Portugal e Espanha foram animadores. Segundo revelou o próprio Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) foi confirmada a presença de 1365 exemplares na Península Ibérica, sem contar com os linces que já nasceram em liberdade e que, por essa via, são mais difíceis de contabilizar por não terem um meio de monitorização.

   Para que melhor se perceba a dimensão do crescimento da população de linces, basta recuar 20 anos, quando a Península Ibérica registava já menos de cem exemplares devido à escassez de coelho bravo, o alimento preferencial deste animal. Avançava, entretanto, a destruição e fragmentação de habitat e algum abate intencional.

   Uma conjugação de factores que deixou os linces criticamente em perigo de extinção, chegando mesmo a ser considerada a espécie de felino mais ameaçada do mundo.

   Porém, vários projetos LIFE (entre os quais Iberlince e o Lynxconnect”) desenvolvidos em parceria entre Portugal e Espanha permitiram que a população ibérica chegasse aos mais de mil indivíduos.

   Ainda assim, a reintrodução do lince-ibérico no Vale do Guadiana começou a ter impactos negativos sobre a população de raposas, que está a diminuir, segundo um estudo, com recurso a foto-armadilhagem e rádios seguimento, conduzido ao longo de cinco anos.

 
Impactos negativos sobre a população de raposas
 
A investigação promovida pelo ICNF, em parceria com o Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, revela um «decréscimo contínuo da abundância de raposas nos territórios ocupados por linces, apesar de esta abundância ter grandes flutuações, com aumentos no outono devido à incorporação de juvenis nas populações. Estimou-se que, ao longo dos cinco anos a população de raposa decresceu cerca de três vezes».
Explica o ICNF que o estabelecimento de uma nova população de um predador de topo, como o lince-ibérico, «pode causar ajustamentos demográficos e ecológicos na comunidade de predadores generalistas, quer ao nível do comportamento, quer ao nível da abundância». Estes efeitos «poderão ser mais evidentes na população de raposas, dado que é o carnívoro mais abundante e com uma alimentação similar à do lince».
 

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