2023-07-26

Onde pára o tesouro de Santa Vitória do Ameixial? São 3500 moedas romanas

As escavações na villa romana de Santa Vitória do Ameixial permitiram encontrar cerca de 3500 moedas - entre as décadas de 70 e 80 do século passado - mas não se sabe onde estão. A própria Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) classifica os 3500 numismas de «importante tesouro» com uma forte representação residual das restantes emissões do século IV
 
TEXTO l Roberto Dores
 
   «As 3500 moedas estariam todas juntas. Não estão connosco, nem sabemos onde estão», revelou a arqueóloga da Câmara de Estremoz, Rita Laranjo, durante uma visita guiada às escavações arqueológicas na villa romana de Santa Vitória, descoberta casualmente no princípio do século passado.
 
   A DGPC atesta que as moedas se encontram em «perfeito estado de conservação» acrescentando mesmo o detalhe, segundo o qual, o tesouro encerra com «três raros exemplares da série Gloria Romanorum – ´labarum´ cunhados em nome de Honorius, com a legenda de anverso partida, no centro emissor de Constantinopolis depois da morte de Theodosius em 395».

Rita Laranjo acrescentou que muitos dos vestígios que têm sido encontrados ao longo das décadas foram encaminhados para o Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa - que se encontra em obras profundas - admitindo também que a população de Santa Vitória tenha encontrado muitas «peças valiosas» que estarão bem guardadas nas suas casas.

   Os achados entre os populares tiveram origem, por exemplo, durante a construção das suas próprias casas, erguidas sobre a villa romana, admitindo alguns habitantes que as fundações revelaram várias peças com séculos de história.

   «Muitas das pessoas nem sabem o valor das peças, mas preferem guardá-las em casa do que deixar que as levem daqui», ia explicando a arqueóloga durante a visita, revelando que a população tem reclamado o regresso do espólio à sua origem. «Nunca foi exposto em lado nenhum. Continua em Lisboa e as pessoas queriam ter aqui as coisas», enfatiza Rita Laranjo, mostrando-se convicta de que se houvesse um centro interpretativo «certamente que as pessoas teriam todo o gosto em mostrar o que têm escondido dentro de casa».

   A equipa de arqueologia que conduz os trabalhos em torno de Santa Vitória do Ameixial ambiciona perceber onde se encontram os vestígios, o que iria ajudar a compreender melhor este sítio. «É uma espécie de um puzzle. Temos que tentar recuperar todas as peças para fazermos outro tipo de leitura».
 


Uma jóia do período romano e um laboratório da arqueologia  
 
A descoberta do mosaico que aborda a cena de  «Ulisses e as Sereias» é apenas um dos detalhes que eleva a villa romana de Santa Vitória do Ameixial como um sítio emblemático à escala nacional, no que diz respeito ao período romano. A Câmara de Estremoz quer estudar o monumento, com mais escavações nos próximos anos, habilitando a criação de um centro interpretativo que permita tornar este património singular visitável.
 
 
Os estudos já realizados admitem que a villa terá sido edificada entre o final do século I a.C e o início do séc. IV d.C, durante a romanização da Península Ibérica. É Monumento Nacional desde 1974, mas as ruínas desta villa estiveram ao abandono pelo Poder Central, mais de 20 anos, 
Ou seja, as últimas intervenções ocorreram em 1997, estando o espólio entregue ao Museu Nacional de Arqueologia, pelo que ganhou especial relevo a acção de formação que por ali teve lugar recentemente, integrada no âmbito do Projecto de Investigação Plurianual de Arqueologia (PIPA). O CAMPUS – Escola de Arqueologia foi uma iniciativa que resultou da colaboração entre o Município de Estremoz e a Universidade de Évora. 
 

[label_related]

« Back