2024-02-15

Os encantos de Terena que projectam o sonho da candidatura a Património Mundial

 
O desafio de uma futura candidatura à UNESCO é lançado à boleia do livro «Terena em sketch», da autoria de Carlos Fidalgo, que em 60 desenhos mostra alguns dos argumentos desta freguesia do Alandroal para alcançar a chancela da UNESCO. O presidente do Município, João Maria Grilo, concorda. Admite que a «herança patrimonial é única» e que o trabalho é longo. Mas faz-se caminhando
 
TEXTO | Roberto Dores
 
   Ponto alto do livro editado pelo Caminho das Palavras aos olhos de Carlos Fidalgo, que há uns anos aderiu ao movimento Urban Sketchers: A célebre Festa em Honra da Senhora da Boa Nova. A maior peregrinação Mariana do Sul do país que tem lugar no fim-de-semana a seguir à Páscoa e enche de fiéis o Santuário. 

   O autor explica as dinâmicas das procissões, desde a saída da Senhora da Boa Nova do Santuário até ao «Encontro» com São Pedro, passando pelo regresso no dia seguinte com os peregrinos a acenarem com lenços brancos. A mesma segunda-feira em que a tradição leva as famílias para o campo a comerem o borrego.

   «É relevante dar a conhecer tudo isto. Quem passa na estrada vê o castelo, mas não vê o Santuário, que é fabuloso. E estamos a falar de uma festa com características únicas. Tem todo um peso que merece ser estudado, porque estes patrimónios material e imaterial justificam uma candidatura», enfatizou, sublinhando que o fluxo de turistas na região está muito alicerçado entre Elvas, Estremoz, Évora, Monsaraz e Vila Viçosa, «mas Terena não tem menos valor que esses locais».
 
Entre as páginas do livro que se traduz num roteiro sobre Terena, além das dinâmicas das procissões, Carlos Fidalgo exibe desenhos feitos nos últimos anos sobre a paisagem agrícola, arqueologia, igrejas, história, fala de pontes, do património endovélico e das pessoas.
 
   O presidente da Câmara do Alandroal reconhece que há argumentos para que os trilhos, rumo à candidatura na UNESCO, sejam traçados. «Isto vem ao encontro do que são os objectivos do município. Temos uma herança patrimonial única», assume João Maria Grilo, recordando a presença das marcas das várias épocas, desde pré-romano, destacando o culto endovélico, que testemunha o período romano mais importante no país pelo espólio aqui encontrado.

   Permanece em Lisboa, no Museu Nacional de Arqueologia, mas a autarquia ambiciona recuperar todo o conjunto para o concelho quando o futuro museu de Terena estiver de pé.

   «Depois há todo o período medieval e todo o culto associado à Senhora Boa Nova  e este Santuário, que é de uma riqueza singular. Toca o cristão e o pagão. Merece uma atenção especial. É um conjunto que pode merecer a consideração de uma candidatura de  todo este património  que é nosso, mas também é do mundo», confirma o autarca, sem perder de vista a prioridade que deve ser dada à componente de valorização patrimonial 

   Ou seja, explica o edil que é preciso fazer correr os processos quase em simultâneo. «Temos que reabilitar o castelo, ter um novo museu, reabilitar a antiga Misericórdia e temos que concluir a reabilitação da Senhora da Boa Nova», diz João Maria Grilo, assumindo que a classificação será feita a pensar na preservação, mas esse rótulo também «vai criar a expectativa de atractividade no visitante que depois não pode ser defraudada», reconhece.

   João Maria Grilo recorda, contudo, que está em curso esse projecto para Terena. A preços actuais, serão necessários cerca de 6 milhões de euros para recuperar património, criar um museu que reúna o espólio cultural do concelho e avançar para um parque verde que irá convidar ao passeio. Nem tudo vai avançar ao mesmo tempo, mas 2024 deverá marcar o arranque do investimento. 
«Estamos a fazer por Terena o que nunca se fez no passado e esse trabalho realizado de forma séria, competente e sólida vai dar-nos argumentos para formalizarmos um dia a tal candidatura a património da humanidade, para que todo o conjunto de Terena tenha o reconhecimento que merece», resumiu o edil.
 

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