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2023-12-10

Remate «à Ameixa» tem 80 anos e continua célebre na aldeia de Santo António. Foi golo

 
Manuel Ameixa nem costumava jogar. Mas naquela partida entrou para fazer a alegria do povo da aldeia apaixonado por futebol. Meio sem querer e mesmo encolhido, disparou para o golo. Santo António assistiu a uma derrota pesada da sua equipa, mas aquele remate ganhou o estatuto de «imortal»
 
TEXTO | Roberto Dores
 
   O relato do golo histórico está impresso nas páginas do novo livro de José Domingos Ramalho, que foi este sábado lançado em Estremoz perante 200 pessoas presentes no Museu Berardo. É uma obra dupla, que cruza «O Motorista dos Cortes» e as «Histórias da Minha Terra», onde o remate «à Ameixa», lido pelo filho do autor, prova que «O importante é chutar à baliza. O resto é sorte». 

   Mas recuemos àquele 23 de Outubro de 1949 quando o povo acorreu em massa ao Campo da Herdadinha para ver a equipa da terra defrontar um poderoso adversário. Eram os tempos da bola de catechu, calção até ao joelho e baliza de pau de eucalipto. A equipa anfitriã sofreu uma goleada, perante o desalento da aldeia que pedia, a plenos pulmões que marcassem, pelo menos, o golo de honra.

   Chegaria o momento da festa. Manuel Ameixa raramente passava do banco de suplentes, mas um colega lesionou-se e teve de ser ele a saltar para dentro das quatro linhas. Estava em campo há dois minutos.

   Escutemos o narrador: «Viu a bola no ar voar em direcção a si, encolheu-se todo, mas pelo sim, pelo não, esticou a perna e desembestou uma espécie de remate, em que a bola escorregou pela perna abaixo, desde o joelho até ao pé, mais parecendo disparada por um elástico». Com a bola a ganhar altura, diz o autor que se fez silêncio no Campo da Herdadinha. Depois o esférico desceu vertiginosamente em direcção à baliza. Embateu na trave e fez ricochete nas costas do guarda-redes ressaltando para dentro das malhas. Golo, gritou a aldeia.

   Manuel Ameixa parecia ser o único que ainda não tinha percebido o que acabara de acontecer e estranhou os abraços dos colegas. «Mas o que fiz eu para se estarem todos a agarrar a mim?», questionava, recebendo a resposta vitoriosa: «Marcaste um golo». 

   O novo livro de José Domingos Ramalho é muito mais que este «remate». O lado das «Histórias da Minha Terra» conta passagens de um Alentejo mergulhado em tempos difíceis, puxando pela preocupação social. Já «O Motorista dos Cortes» pega numa saga familiar que procura comparar a vida do século passado à de hoje.

   Na apresentação do livro, o presidente da Câmara de Estremoz, José Daniel Sádio, destacou a dedicação de José Domingos Ramalho à causa pública. «Passas pela vida e deixas marca. A tua família não é só o tio, os teus filhos. São todos os que estão aqui. Família num conceito muito mais alargado. Estão cá por ti, estão cá porque te admiram. Porque em ti reconhecem o mérito», acrescentou o autarca.

   Nasceu na freguesia dos Arcos (Estremoz), é licenciado em Sociologia e mestre em Recursos Humanos e Desenvolvimento Sustentável, sendo o actual director do Centro Distrital de Évora da Segurança Social.  «O Motoristas dos Cortes» é o seu segundo livro depois de no ano passado ter lançado «O Ameixa tem uma filha».
 

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