Notícias

2022-09-22

SOMBRAS DA RAIA. Da Guerra Civil espanhola ao jogo do «tênzia, mastros e pipas

 
É de Elvas e tem entre 40 e 60 anos? Então o novo livro de Nuno Franco Pires vai «tocar-lhe» em memórias. Daquelas mesmo boas. «Sombras da Raia» está à venda a partir desta sexta-feira e é apresentado sábado, pelas 16.30 horas, na Fábrica Museu da Ameixa d´Elvas
 
TEXTO | Roberto Dores
  
   Lembra-se das noites de cinema ao livre no jardim? Da quantidade de cascas de pipas que se acumulavam ao fim da noite? E de ir às amoreiras da piedade colher folhas para os bichos-da-seda? Ou do recolher dos bombeiros nas noite de domingo? De certeza que jogou ao "tênzia", assim mesmo, como se chamava na altura o jogo da apanhada. E foi aos mastros.

   São memórias de Elvas, que cruzaram as décadas de 70 e 80, para relembrar no próximo livro de Nuno Franco Pires, que começa muito lá atrás, em pleno Verão de 1936, quando a demolidora guerra civil espanhola levou corajosos espanhóis a atravessarem a fronteira para se refugiarem do lado de cá.
 
 

Nuno Franco Pires | Escritor
 
   Subimos com o escritor elvense até ao miradouro do Castelo - onde outrora funcionou o posto rádio - num fim de tarde e com Badajoz em pano de fundo. Acreditámos ser o cenário ideal para a conversa. Afinal, é do lado de lá que vem o mote para «Sombras da Raia», o terceiro livro da autoria de Nuno Franco Pires, que «viaja» ao início da guerra civil espanhola e vai folheando o tempo ao longo de 80 anos.

   Entremos na história. Chegamos até Juan, um espanhol da classe média baixa, pai de dois filhos, que numa manhã de Agosto de 1936 sente a paz ameaçada. Dirigia-se para o trabalho quando, em plena Praça de Espanha, dá de caras com uma pilha de cadáveres vítimas de um massacre.

   Perante a proximidade da raia, não hesitou. Rumou de malas e bagagens para Elvas, à procura de paz, estabilidade, trabalho. Valia a pena arriscar a vida para salvar a família. Ele e outros «Juans» menos ficcionados por aqueles tempos conturbados na vizinha Espanha.

   E eis o mote para o livro «Sombra da Raia». Tem assim início uma trama que mergulha numa teia de mentiras ao longo de décadas. Vale a pena espreitar a sinopse mais abaixo.

   Mergulhemos na investigação que Nuno Franco Pires realizou até avançar para a prosa para tentarmos perceber como eram recebidos por cá os que arriscavam cruzar a fronteira.

   «Alguns portugueses viam com desconfiança a vinda dos espanhóis, porque eram uma ameaça à mão-de-obra e ao que estava já instituído. Por outro lado, não queriam problemas com as autoridades, porque sabiam que o governo de Salazar apoiava ou sustentava os ideais de Franco», descreve o escritor.

   Tempos cinzentos estes, em que as autoridades portuguesas tinham instruções para deter refugiados espanhóis e devolvê-los ao seu país. Péssima notícia. «Uma grande maioria terá sido fuzilada», conta o autor, admitindo que muitos portugueses «bem-intencionados» terão conseguido dar uma mão amiga, salvando famílias da trágica guerra.

   Muitos ficaram por Portugal. Outros regressaram ao país natal, encontrando uma Badajoz diferente da que tinham deixado. Fora das cidades mais castigadas pela guerra civil.

   Avançamos no tempo. Encontramo-nos já neste milénio para o desenrolar da trama. A história prossegue com três famílias que parecem condenadas a encontrarem-se.
 
SINOPSE
 


   "1936 No lado espanhol da Raia a guerra rebenta e, em Badajoz, centenas são massacrados. Juan foge com a família para o lado português, refugiando-se no Monte do Loreto, nos arredores de Elvas, onde encontra trabalho, mas também a antipatia de Tomás, o capataz da herdade.  

   Filho bastardo do proprietário, Tomás vai perseguir a família de espanhóis, servindo-se de Severino, o seu homem de confiança, precipitando-os a todos para um desfecho que alterará o rumo das suas vidas.  

   2018: Um workshop de genealogia traz à luz segredos de família nunca revelados pela avó Soledad. Clara não hesita em querer descobrir a verdade. De Badajoz desloca-se a Elvas à procura de respostas, e conhece Miguel em circunstâncias inusitadas.  

   Professor de história conformado, Miguel está decidido a salvar a histórica fábrica de ameixas doces da família, após o avô ter comunicado a sua intenção de a encerrar.  

   Inês volta à terra natal depois de ver terminado o casamento que lhe parecia perfeito. Após uma longa ausência, o reencontro com a família e um grande amor de adolescência vão levá-la a repensar o seu futuro. 

   Os seus destinos vão cruzar-se, revelando segredos ocultos nas sombras da raia, uma teia de mentiras e enganos guardados por três famílias ao longo de gerações. 

   Numa trama bem construída, repleta de personagens marcantes, o autor agarra-nos até à última página num crescendo de emoção e suspense.»
 

Artigos Relacionados

« Voltar