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2023-04-28

Tem a certeza que conhece o verdadeiro Galo de Barcelos? Olhe que não

 
Fomos conhecer os genuínos Galos de Barcelos em plena FIAPE. Continuam a ser feitos pelas mãos da neta do homem que os criou. Chamava-se Domingos Côto. A neta, hoje com 87 anos, é Júlia Côta. Herdou a arte dos pais, que já tinham aprendido com o avô Domingos
 
TEXTO l Roberto Dores

 
    «Agora não falta quem faça Galos de Barcelos. Até os chineses já fazem. São pintados de preto e depois levam umas pintinhas de várias cores. Os meus são mesmo os de antigamente, são os regionais. Já têm tantos anos», atesta Júlia. 


   Isto quer dizer que muito boa gente tem andado enganada sobre o que é, afinal, o verdadeiro galo ou deu-se aqui uma espécie de evolução no tempo? «Sim, sim, muita gente desconhece que estes são os tradicionais, feitos em barro. Acreditem, porque eu não minto.» Convencidos?

   A artesã revela que depois do seu avô ter criado o primeiro galo que existiu em Barcelos, o pai e a mãe faziam galos de metro e meio cada um. Seguiu-lhes os passos. Começou a moldar o barro aos nove anos e foi ganhando o jeito, ainda no tempo em que até o gato contribuía nas pinturas das peças. 

   Isto é, como não havia pincéis, os artesãos cortavam pêlos do rabo do animal, atavam a um pau e estava o pincel feito. «Eram tempos tão pobres, mas o gato não sofria nada, porque era só o pêlo. Como os homens quando se barbeiam», justifica.

   E Júlia nunca mais parou. «Não trocava isto por nada, nem pela venda de doces», afiança. Hoje os seus bonecos de barro surgem profundamente ancorados no imaginário popular minhoto. Além dos galos, modela músicos, peixeiras, camponesas com grandes brincos de ouro e os diabos. 


   
   «Os diabos é uma coisa tão feia, mas vendem-se tão bem», revela, sem saber explicar o encanto que os clientes de vários pontos do Mundo têm sobre esta figura, que também é uma peça característica do figurado de Barcelos.
 
Júlia Côta está por estes dias na FIAPE a mostrar a sua arte. «Eu já não tenho feito estas exposições, mas o presidente tratou-me tão bem, que eu não consegui dizer que não», justifica.

   Alexandre Correia, curador da Confraria do Boneco de Estremoz sublinha que o protagonismo em torno da arte de Júlia Côta e de outros nomes de peso que foram este ano garantidos pela FIAPE, colocam já o certame no topo do panorama nacional.

   «Afirmo, sem qualquer sombra de dúvida, que estamos numa das melhores três feiras de artesanato do país», sustenta, destacando que a feira, que este ano junta 142 artistas, «tem estado a ganhar dimensão e protagonismo».

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