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2024-01-29

«Vieram cá jantar dois ministros e os motoristas carregaram caixas de maçãs»

No dia em que Juromenha e a Mina Bugalho (no concelho do Alandroal) inauguraram a luz eléctrica houve festa com honras de Governo. Foi há mais de 50 anos. «Vieram dois ministros, mas foi só para o jantar», recorda entre risos João Martins, à época presidente da Junta, enquanto se prepara para relembrar a história das maçãs. Tinham sido oferecidas por um amigo para o repasto, acabando muitas delas por seguir viagem para Lisboa. Já lá iremos


TEXTO | Roberto Dores
 
   João Martins fora nomeado presidente da Junta em 1964 e geriu os destinos da autarquia durante dez anos, até à revolução de Abril. Aqui vale a pena abrir um parêntesis: «Nunca recebi um tostão. Nem eu, nem nenhum representante do elenco», sublinha. Este domingo a população de Juromenha juntou-se para lhe cantar os parabéns. São 100 anos de vida recheados de histórias, como a tal das maçãs.

   Para lá chegarmos temos de recuar até àquela que foi a obra que marcou a sua governação. A chegada da electricidade estava consumada e João Martins decidiu oferecer um jantar à população no edifício da escola para sublinhar tremenda conquista. Quem diria que o Governo da altura se iria fazer representar ao mais alto nível e logo com dois governantes.

   «Tinha pedido duas caixas de maçãs ao feitor do pomar do Monte Branco. Era o Manteigas, que era de Juromenha e ofereceu logo uma furgoneta cheia de maçãs. Se visse os motoristas dos ministros a carregarem caixas! Era uma vergonha», relata João Martins, destacando que a generosidade do amigo Manteigas foi tanta que, mesmo assim, as maçãs chegaram para todos. «A população estava tão contente que até me ofereceu uma prenda», recorda.

   Na celebração do centenário proposta pela população de Juromenha e promovida pela Junta de Freguesia em jeito de homenagem, João Martins ouviu os elogios dos actuais presidentes da Câmara do Alandroal, João Maria Grilo, e da União de Freguesias, Manuel Fialho, antes de contar que regressou à liderança da Junta, em 1994.

   No mandato já em democracia ainda conseguiu fazer os sanitários e restaurar três habitações na vila, tendo utilizado o seu próprio tractor para transportar os materiais. «Mais uma vez, nunca levei nada», atesta.

   Aos dias de hoje vive em Elvas, na casa da família, mas sempre que o tempo permite - mais ou menos, por altura da Primavera - pede que o levem para a sua terra, onde passa os dias a trabalhar na horta. «Aqui sinto-me melhor. Na descida do Guadiana comprei um olival por dez contos (50 euros) a um guarda-fiscal», relata.

   Tem 410 oliveiras e mandou abrir um furo por 500 contos (2 500 euros). Lamenta não ter tido a oportunidade de semear os alhos nos últimos dois anos, mas ainda vai a tempo de apanhar uns espargos. «Se calhar nesta altura já lá há», diz, assegurando que fazem uma «bela sopa».
 
Detalhe do discurso escrito à mão e no próprio dia da homenagem

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